sábado, 15 de dezembro de 2018

ACLEP: Meio século de existência


Neste ano que vai se iniciar no próximo mês, a nossa ACLEP – Associação dos Locutores e Cronistas Esportivos do Pará – completa meio século de existência. 

No início, poucos eram seus integrantes. As equipes de rádio eram diminutas e as editorias de jornais contavam no máximo com dois elementos. A televisão noa tinha cobertura própria. Seu noticiário em geral era reproduzido dos jornais. Com apenas um apresentador. 

Carlos Estácio e Nizomar Brito foram seus primeiros dirigentes; presidente e vice. 

Ora compor a chapa da primeira diretoria, até o secretário da extinta Federação Paraense de Desportos (FPD), Raimundo Queiroz, consta como um de seus fundadores. 

Em 1985, na gestão de Joércio Barbalho, a ACLEP adquiriu um grande terreno onde edificou sua sede campestre na BR-316. É uma das poucas entidades congêneres a possuir sede própria. 

Nestes 50 anos de proficiente existência, foram presidentes da entidade os seguintes companheiros: Carlos Estácio, Grimoaldo Soares, José Maria Simões, Osmar Simões, Carlos Castilho, Carlos Cidon, Zaire Filho, Joércio Barbalho, Sérgio Noronha, Edson Matoso, Pio Neto, Oti Santos, Álvaro Nascimento, Ubiratan Ferreira, Ferreira da Costa, Géo Araújo, Nildo Matos e Getúlio Oliva(atual). São falecidos: Grimoaldo Soares, Osmar e José Simões, Carlos Cidon, Álvaro Nascimento e Géo Araújo.

sábado, 8 de dezembro de 2018

O Esporte parou na Clube. A casa caiu!

O esporte sempre foi uma tradição na Rádio Clube. Desde meados dos anos 1940 quando Saint Clair Passarinho, que é considerado o pioneiro na transmissão do futebol resolveu parar a passar a bola para Edyr Proença. Edyr iria se revelar como um narrador de marca registrada. Seja pela voz anasalada, mas de timbre agradável, a dicção cristalina e ainda a narrativa modelar, sem as gritarias espalhafatosas na descrição dos lances e sobretudo pelos raros bordões inseridos durante seu relato do jogo, mas com frases craniadas como por exemplo: “o tempo passa e a barba cresce” e a máxima na hora do gol: “futebol é bola na rede”, dito compassadamente. O patrocinador exclusivo das jornas esportivas era simplesmente a Gillette do Brasil. 

A Rádio Clube foi vendida em 1983 para um grupo de empresários vinculados a Jarbas Passarinho e cujo capitão de indústria, era o falecido Jair Bernardino. A emissora pertencia à família de Edyr Proença e outra parte societária à Arquidiocese de Belém. 

Com a venda, Edyr deixara o esporte da emissora. Mas ficou uma equipe com nomes conhecidos como José Simões, Cláudio Guimarães, Jones Tavares, José Lessa e ainda: Beraldo Frances (informante do Plantão) o repórter Sílvio Damasceno e Moacir Tavares (escuta do Plantão). 

Com menos de um ano os novos donos da rádio resolveram extinguir o departamento de esportes. Sumariamente. Alegavam que a equipe não se sustentava financeiramente. E sem mais e nem menos, certo dia ao chegarem para apresentar o programa Cartaz Esportiva ao final da tarde, foram surpreendidos com um aviso afixado no quadro com essa finalidade, comunicando o término das atividades do setor e sugerindo que seus integrantes procurassem o Departamento de Recursos Humanos (RH) para tratar de suas situações funcionais individualmente. 

Foi um alvoroço. Como conta o saudoso José Maria Simões em seu livro “42 anos –Uma vida no Esporte” (1997). (...) “A maior decepção, talvez, de toda a minha vida no rádio esportivo quando, num determinado dia de outubro de 1984 aconteceu o que eu nunca imaginava pudesse acontecer principalmente como tudo foi feito pela direção da Rádio Clube que tinha como diretor geral o Sr. Arnaldo Passarinho. Nesse dia, ao chegar à rádio pra a apresentação do programa Cartaz Esportivo e a Turma do Bate-Papo, fomos surpreendidos com um simples “bilhete” afixado na parede da entrada do estúdio. Que dizia que não haveria o referido programa naquele dia, que estava extinto o departamento de esportes e que cada um procurasse o departamento de pessoal para a solução de suas situações financeiras. Eu e o Cláudio Guimarães fomos ao gabinete do Arnaldo Passarinho que apenas confirmou a decisão tomada pelos diretores da emissora. O que mais nos doeu não foi a extinção da equipe esportiva, um direito de quem era o proprietário da empresa, mas a maneira como eles agiram, sem qualquer consideração com os profissionais da mais alta estirpe e do mais alto respeito do rádio paraense que ali atuavam como era o caso meu, de Cláudio Guimarães, de José Lesa, com mais de vinte aos na emissora e dos demais companheiros. Minha decepção foi tão grande que, naquele momento tomei a decisão de que jamais trabalharia no rádio paraense. (...) 


A repercussão foi a pior possível nos meios de comunicação. O ex-dono da emissora e chefe da equipe, Edyr Proença que escrevia uma coluna no extinto jornal “Associado” A Província do Pará disse que mesmo que deficitário, o departamento em atividade ainda era lucro para a emissora pelo prestigio de que gozava perante o público por anos a fio. Outro ex-integrante do Plantão da emissora em tempos idos, o saudoso José Maia Nobre Gonçalves, em carta publicada em um dos jornais da cidade lamentava profundamente a infeliz decisão da emissora. Foi um clamor geral de protestos. 

Hoje, Hélio Dória que era o diretor de programação à época e Carlos Mendes, diretor de jornalismo, lembram que a desculpa mesmo por parte dos novos dirigentes da Rádio Clube é que o departamento esportivo era deficitário. Daí a extinção do setor. 

Beraldo Frances foi o único da equipe a permanecer na emissora, mas somente para informar os resultados de jogos por todo o país aos domingos à tarde. 

Pouco tempo depois, em 1986, a prestigiosa PRC-5, como por longos anos a emissora era mais conhecida, passou a integrar o grupo do jornal Diário do Pará, e logo o departamento de esportes foi reativado inclusive com a contratação de novos integrantes como Carlos Castilho, Guilherme Guerreiro, Nonato Santos, Carlos Estácio, Theodorico Rodrigues, Adonay do Socorro e Agripino Furtado.


Gilvandro: o craque galã

Boa pinta, alto e corpo atlético, ele jogava como zagueiro-central, sendo um autêntico espanador à frente da zaga, além de subir bem para as cabeçadas nas bolas aéreas. Tanto na sua grande área como nas dos adversários, quando era preciso arriscar, quem sabe, um gol. 

Quando comecei a frequentar o imponente estádio da Tuna, o conhecido “Campo do Souza”, o baiano Gilvandro já estava há uns três anos jogando pelo Papão. Corpulento e “sarrafeiro” quando fosse preciso dividir uma jogada mais ríspida, ele era um dos ícones da equipe naquele tempo remoto em que o time bicolor voltara à hegemonia do futebol paraense, depois de quase 10 anos sem ganhar um campeonato. O “Bacalhau” –apelido que eu nunca soube sua origem – tinha status de ídolo entre os torcedores do Paissandu. 

No começo dos anos 1960, Gilvandro deixara o futebol, mas continuou a residir em Belém pois casara com uma jovem da elite local. Mas continuava a ser o galã de sempre, com muito prestígio entre a mulherada. E um “senhor copo” em termos de bebida. Quando o conheci mais de perto, passei a observar que ele era um farrista mais de bebida do que de mulher. Mas se dessa “liga,” a conexão seria ideal, 

























Com estudo que lhe garantiu um bom emprego na Prefeitura de Belém, ele galgou o elevado cargo de tesoureiro da comuna metropolitana. E por lá ficou durante quase dez anos. Até que um dia, em princípios da década de 1970, estourou um escândalo envolvendo um “rombo” elevado nos cofres públicos. Quase tudo recaiu sobre ele. Justificava-se como sendo generoso em conceder “vales” aos amigos que não teriam ressarcido o erário municipal. O déficit foi se acumulando. Até chegar ao “estouro da boiada”. Enrolado em inquérito policial, ele fugiu de Belém e foi se homiziar no interior de seu estado natal. Sumiu de Belém, embora pouco tempo após, depois que a poeira se esvaíra, ele estivesse de volta. Para sentir a ingratidão dos amigos, principalmente aos que beneficiara no exercício do cargo público. Tinha acolhida de um ou outro mas apenas para nas rodadas de boemia. Ele sempre fora uma pessoa de convívio social elevado. Talvez até por influência da família da esposa. Ocioso, passava o dia todo perambulando pelos bares. Saindo de um para outro, até a madrugada. Bebia bem. O extinto Bar Fazzano, na Manoel Barata, próximo à avenida Presidente Vargas passou a ser quase que seu lar ou “escritório”. Chegava pela metade da manhã e só saia quando fechava. Em companhia assídua de um advogado, amigo seu, certo dia houve um desentendimento entre ambos, e o advogado o alvejou à queima roupa com três tiros. E fugiu, deixando Gilvandro sozinho. O ex-jogador levantou-se, mesmo baleado e cambaleante foi até à rua, entrou em um taxi que o conduziu ao Pronto Socorro da rua 14 de Março. Salvou-se após alguns meses em tratamento. Mas retornou à mesma vida boemia de outrora. Talvez até em maior intensidade. Foi envelhecendo rapidamente e perdendo aquela feição de beleza máscula. Era quase um farrapo do passado. Relacionou-se com uma magistrada bem mais velha do que ele, que lhe deu guarida até a morte, com menos de 50 anos. Morreu de cirrose hepática em fins dos anos 1980. 

Eu o conheci no Bar do Biriba que ficava na rua Carlos Gomes e onde eu costumava jantar quando trabalhei no jornal “O Estado do Pará”. Ele estava querendo vender um apartamento que pertencia à família, mas ainda não se desquitara da esposa. Mostrei-lhe o impedimento legal sem anuência da mulher. Eu entendia, por óbvio, o que desejava que eu conseguisse. Porém, nunca exerci a profissão de advogado prometendo “milagres” ou cometendo tramóias em benefício de meus clientes. Durante os 20 nos em que atuei, abstraia qualquer tipo de apelação que até pudesse parecer natural em defesa de quem contratava os meus serviços profissionais. Mera questão de natureza ética e formação familiar. Sem censurar, entretanto, os que não pensavam ou não pensam como eu. 

O saudoso China, cracaço da Tuna a quem muitos atribuem a criação da “folha seca” que consagrou Didi, quando deixou o futebol montou uma grande oficina de consertos de automóveis, localizada na avenida Alcindo Cacela. Eu levava meus carros quando precisavam de consertos mais urgentes. E costumava ficar conversando com ele. China era um altruísta que tinha como missão dominical visitar ex-colegas de seu tempo de futebol. Aos mais necessitados, levava uma cesta básica de alimentos. Aos outros, como Gilvandro, apenas pelo prazer de rever o colega. Contou-me que ainda chegou a ver o amigo em seus últimos dias. Deitado em uma rede com uma garrafa de bebida embaixo. Quase totalmente embriagado. Dizia balbuciando que sabia estar chegando ao fim. Mas que preferira morrer assim. 

Destino? Desgosto? Auto destruição inconsciente, vazio existencial pela velhice que chegara? Ou apenas “a vida como ela é”, relembrando o ácido axioma do genial Nelson Rodrigues?

Um bom cabeceador à frente e atrás de sua área.

Times inesquecíveis


Quando debutou no Campeonato Brasileiro da Primeira Divisão no remoto ano de 1972, o Remo formou um timaço. Jogadores contratados basicamente no interior de São Paulo através do treinador João Avelino que pela primeira vez dirigiria um time paraense. O Leão era quase imbatível no Baenão. Que chegou a registrar a presença de mais de 30 mil torcedores no estádio azulino. Era gente por cima de gente, com o público presente em grande número desde às 12 horas em um jogo que só começaria às 17h ... Difícil explicar isso quase 50 anos depois. 

Na foto, da esquerda para a direita: Aranha, Dutra. Mendes, Dico, Tito e Lúcio Oliveira. Agachados na mesma ordem: Dionísio, Caito, Roberto, Hertez e Peri. 

O Paissandu, por sua vez, em 1994 teve para mim o melhor time de todos os tempos. O Papão ganhava no Mangueirão grandes equipes do Rio ou São Paulo. E de igual modo, quando atuava fora de Belém. Seu treinador Tata, que faria história em Belém tanto à frente do PSC como depois no Remo, trouxe quase um time inteiro, com jogadores recrutados de equipes paulistas de menor expressão, mas armou um timaço. 

Em pé: Ferreira, Edson, Rogério Lage, Cláudio, Augusto e Antonio Carlos. Embaixo: Mirandinha, Flávio Goiano, Chiquinho, Oberdan e Biro-Biro 

O Papão derrotou o São Paulo no Morumbi por 2 a 1.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Os bons repórteres de campo

Os primitivos BTPs 


No início do futebol pelo rádio, os que desejavam entrevistar jogadores e árbitros ou até mesmo contar com mais detalhes os fatos acontecidos no gramado, o trabalho era quase um parto. 

Os microfones eram esticados por fios “quilométricos” instalados sabe-se lá em que plugues, com um auxiliar ajudando o repórter nessa mini- maratona, Até chegar ao seu objetivo, no caso, o entrevistado. Do mesmo modo no pós jogo. Era literalmente uma “mão de obra” dos diabos desempenhar essa função em uma transmissão esportiva. 

A partir dos anos 1950 são fabricados aparelhos conjuntos englobando a caixa de som ao microfone e o indefectível fone de ouvido. O repórter carregava o transmissor ao tiracolo e o microfone na mão. A dificuldade maior, porém, era quando necessário, sair correndo com aquele trambolho pendurado no ombro. Uns eram mais pesados do que outros. Dependia do fabricante. Já em fins da mesma década começam a ser usados os microfones sem fio que passaram a ser chamados de BTP – Batments et travaux publics - (em tradução literal em francês, sem nenhum sentido ao do rádio). Uma espécie de caixa metálica ou de ferro, de formato comprido como se fosse um tijolo, mas não tão robusto e dotado de uma pequena antena na ponta, de fácil condução e manejo por parte de quem o utilizasse. Predominavam nas reportagens de rua e nos campos de futebol. Mais nestes do que naquelas. 

O primeiro BTP usado nos gramados de Belém teria sido fabricação própria através do técnico de som conhecido como Mucuim e que era o chefe do setor da Rádio Clube. Embora não fosse engenheiro especializado, era inventivo demais na matéria. A Marajoara e a Guajará –quando estreou no futebol em 1962 – já usavam modelos mais modernos. Contudo, dizia-se que o BTP primitivo da Clube era o de melhor som e audição. Mas a Marajoara chegou também a ter um do mesmo modelo da Clube. A Liberal quando estreou sua equipe em 1970 já usava um modelo muito mais moderno e portátil. Embora bastante eficiente.

ELES FORAM BONS REPÓRTERES 


Para prestar homenagem a alguns desses chamados repórteres-volantes, todos já falecidos, não poderiam ser esquecidos os nomes de Abílio Couceiro –que era um autêntico multifunções na emissora “Associada” - da Marajoara e João Álvaro, da Clube. Se equivaliam até na voz, de timbre fraco. 

Mas eram bons entrevistadores. Ainda que concorrentes quando só as duas emissoras transmitiam o futebol, a disputa pela primazia da entrevista respeitava sempre a ética. Além de também serem bons redatores para os jornais impressos. Abílio pela extinta A Vanguarda, vespertino dos “Associados” e João Álvaro, no Jornal do Dia, O Liberal e colunista na revista GOL. Todas essas publicações já extintas. 

Com estilos singulares, embora perseguindo sempre a notícia ou a entrevista em primeira mão, podem ser citados: Paulo Ferrer, que era até hilário com as informações minuciosas sobre os seus “prognósticos” de arrecadações e público presente aos estádios, chegando às “frações”, tanto em um como em outro quesito. Não era chegado a arredondar nem no número de torcedores e muito menos na renda. Suas conjecturas eram “meticulosas” Ainda que no real, quase sempre dispares...Foi o melhor repórter de rua, o que lhe valeu a consagração no “Amarelinho da Marajoara” a unidade volante da emissora. Começou na Liberal, alcançou sua maior projeção na Marajoara e teve passagens pela Clube e Cultura. Era goiano de Catalão. 

Nonato Santos apelidado de “Trovão” pela voz possante, mas de tonalidade agradável, era um tanto afoito. Linha de frente em busca dos fatos e de seus entrevistados, não tremia nas bases quando escalado para missões as mais difíceis. Certa feita foi enviada como repórter da Clube para cobrir a concentração da Seleção Brasileira nas Paineiras. Enfrentou as cobras da reportagem esportiva nacional. Estava, entretanto, sempre em cima do lance nas informações. 

E, por fim, depois de chefiar o Plantão da Clube na função de “escuta” por alguns anos, contratado pela Liberal quando a emissora montou uma equipe qualificada em 1970, Bellard Pereira se revelaria um bom repórter de campo. Bem articulado, sabendo formular perguntas objetivas, chegou a provocar um “quiproquó” com o truculento Paulo Amaral quando ele foi treinador do Remo pela primeira vez (1974). O entrevero se estendeu do gramado até a cabine da rádio no Baenão. Com repórter procurando minimizar a situação. Mas Paulo Amaral naquele seu estilo machão, tentava intimidar o repórter. Deu zebra. O chefe da equipe e um dos donos da emissora, o consagrado Edyr Proença, chegou na “hora do aperto”. E imediatamente expulsou o valentão treinador da cabine. Isso tudo com a solidariedade dos dirigentes do Remo presentes à tribuna de honra do estádio. Edyr era considerado um ícone não só da imprensa esportiva, mas sobretudo do Leão, clube do qual era considerado um de seus mais respeitados admiradores. Ainda que no exercício da profissão tanto no rádio como no jornal, soubesse conter seu amor pelas cores azulinas. Para ele, a ética sobrepunha sempre a paixão.

Legendas

1- O equipamento que Grimoaldo Soares empunha, é dos primórdios dos microfones volantes (meados dos anos 1950);

2- Luiz Brandão, narrador carioca da Marajoara, mostra o novo microfone volante da sua equipe (anos 1960);

3- João Álvaro em entrevista no estúdio da Rádio Clube (anos 1960);

4- Abilio Couceira entrevista o jogador do Remo, Jorge de Castro (anos 1960);

5- Bellard Pereira com o BTP primitivo da Clube – 1974;

6- Paulo Ferrer era hilariante, mas bastante ativo – 1975;

7- Nonato Santos bem equipado pela Clube nos anos 1980;

8- Antônio Tavares com um dos BTPs “tijolaços” pela Marajoara em 1975;

9- Carlos Estácio com um BTP mais confortável no final dos anos 1960;

10- Zaire Filho com o mesmo tipo de BTP em meados dos anos 1970;

11- Guarany Júnior usa um microfone portátil dos mais modernos pela Liberal -1975.

sábado, 29 de setembro de 2018

Cracaços do passado


O estilo elegante e sobretudo técnico do quarto zagueiro (à época, centromédio) Casemiro, originou lhe alguns apelidos por parte da torcida e da imprensa (leia-se os jornais impressos). Alguns desses codinomes: “Fio de nylon” (era um tecido de grande elasticidade e com uma característica: nunca amassava. Mesmo sem passar o ferro elétrico, seu estado natural era o mesmo. Por sua magreza, “Fiapo” era outra alcunha bastante usada pelos impressos da época. Originário dos juvenis do Remo, sem tanta demora substituiria Socó, outro esplendido jogador na sua posição. Ainda na década de 1960 atravessou a avenida e foi jogar no maior rival. Antes de se transferir para o futebol amazonense onde além de jogador do rio Negro foi empresário de futebol, Casemiro teve rápida passagem pelo Fluminense. Morreu em Manaus há cerca de cinco anos. 

Contratado na metade dos anos 60 pelo Paissandu junto ao Vasco da Gama, Bené que era do time aspirante da equipe carioca, chegou assustando. Era o autêntico centro-avante artilheiro. Marcava gols em profusão além de ser um rompedor de defesas quer pela velocidade e ainda pelos dribles rápidos com a conclusão de chutes fortes com os dois pés e quase sempre em direção certeira ao gol. 

O chamado “Furacão da Curuzu” ou ainda “Tanque”, realçaria ainda mais seu futebol quando passou a jogar ainda no mesmo ano (1965) com seu ex -companheiro de ataque no Vasco, o meia-direita Rubilota (a grafia correta do nome era Robilota). Infernizavam os zagueiros e ambos sabiam marcar gols. Foram dois atacantes de bom nível técnico. Rubilota trocou a mão na avenida Akmirante Barroso e foi para o Baenão em 1968. Mas retornaria ao Papão em 1972. Bené (o que poucos lembram) jogou pela Tuna em 1969 (Torneio Nordestão) mas ainda na década de 1970 também voltaria à Curuzu. Ele é cunhado do jornalista Ferreira da Costa (casado com uma irmã do ex-presidente da Aclep) e por longos anos reside na capital de São Paulo. 

Rubilota que era advogado, faleceu em Belém em 2011.

O fato é muito antigo. Acontecido nos longínquos anos 1950. No tempo das acirradas disputas entre as seleções estaduais, que aconteceram até 1962. Quando a então Confederação Brasileira de Desportos (CBD) antecessora da CBF, “limou” a competição de seu calendário oficial.

Quando as seleções do Pará e Amazonas se enfrentavam no clássico que a imprensa escrita denominou de Jacaré X Jaraqui (jaraqui é um peixe típico do rio Amazonas) tudo de inusitado em termos de absurdos poderia acontecer.

Em um jogo realizado no antigo Parque Amazonense, estádio oficial antes do surgir p Vivaldão no início da década de 1970, em clima de “guerra” os dois times disputavam o primeiro jogo. Naquele tempo, não havia cabines de rádio separadas da torcida nos estádios nortistas. No antigo campo da Tuna, no Souza, as duas emissoras da capital, Clube e Marajoara, transmitiam os jogos no que se convencionou chamar de Tribuna de Honra. O mesmo local que abrigava a diretoria do clube e a turma da imprensa em geral –rádios e jornais, os dois meios de comunicação predominantes.

O narrador Grimoaldo Soares foi até Manaus transmitir o jogo pela Rádio Clube. A Marajoara ainda não fora inaugurada. Ao gritar o gol de empate do Pará, o narrador foi tendo sua voz sumida do ar. Tudo bem que o fato poderia ser encarado naqueles tempos pré-Embratel como coisa normal. Afinal, as transmissões eram feitas de modo precário. Quase na sorte do som chegar ao seu destino através da Radional que era a empresa que tinha o monopólio das comunicações a cabo: telefonemas, telegramas e as irradiações do futebol de um estado para o outro. A maioria das emissoras preferia se valer das ondas curtas de outras rádios quando lhes eram concedidas. Em nem todas dispunham de mais do que a onda média (AM).

Ocorre que a voz de Grimoaldo custou de mais a retornar ao receptor. E quando o narrador voltou a narrar percebia-se que algo teria acontecido no estádio. Ele ficara menos entusiasmado no decorrer do jogo até o seu final.

Quando a delegação paraense retornou à Belém, veio também a versão verdadeira sobre o fato. Grimoaldo sofrera um murro violento de um torcedor nas costas que interrompeu seu fôlego por alguns instantes. E depois de recobrado, preferiu manter-se silente até o final a partida.

Jacaré e Jaraqui haviam empatado o jogo. Mas antes assim.
  

Apelidos bizarros

Pau-preto (em pé) e Cacetão
Alguns narradores de futebol mais saudosistas –especialmente os da televisão – costumam reclamar da composição dos nomes da grande maioria dos jogadores da atualidade. Quase ninguém é mais chamado apenas pelo primeiro nome. Quando não é o nome complementar, o sobrenome (seja materno ou paterno) é acoplado ao prenome. 

Pior era no passado com apelidos pra lá de extravagantes. Por exemplo: quem não se assustaria com uma narração em que fossem destacadas as trocas de passes entre Pau Preto e Cacetão? Pois ambos jogaram por muito tempo no Paissandu. E um trio de irmãos tunantes formado por Sarará (o único ainda vivo e o mais velho de todos), Macaco e Macaquinho? Ou dois atacantes do Remo que atendiam pelas alcunhas de Marido e Santo Antonio? Os bicolores costumavam “sarrar” com os azulinos ao dizer que o Remo era o único time que tinha “marido” ... 

Na segunda metade dos anos 1960, o Papão também teria um treinador chamado de Santo Cristo. Era carioca e nascido no antigo bairro do mesmo nome. 

Quase infame mesmo era um goleiro que jogava pela seleção de Bragança e depois no Sacramenta com o esdrúxulo apelido de Pit-Fot. Pesquisei sobre tal apelido e o conhecido locutor bragantino, Celso Leite, respondeu-me que colheu junto à família do falecido jogador que seriam palavras pronunciadas por ele quando criancinha para denominar um brinquedo que não acertava dizer o nome. 

Ao chegar à Belém contratado pela Rádio Marajoara, o narrador Luiz Brandão recomendou que fossem evitados numeroso apelidos na escalação dos times. Seu repórter volante o lembrado Abilio Couceiro chama do gramado para informar a escalação da Tuna e começa: Sarará, Macaco Primeiro...e logo é interrompido por Brandão: “Oh, Abilio, veja se consegue saber o nome desse zagueiro. Abilio responde na lata: Braulino Filizolino de Sena. E Brandão mais fulminante na resposta: “Deixa macaco mesmo”. 

Mas a saia justa como a que o saudoso Edyr Proença se meteu ao ler em um programa a escalação de um time suburbano (coisa comum em tempos mais remotos) não teve igual. Patati, Patatá, Curió, Carrão de Sena e Cavalo do Major; Segue escalando o time mas freia de repente. Era um dos atacantes que tinha o sutil apelido de “Cú da Mãe”. Para não perder o embalo ao microfone, recorre à rapidez de raciocínio e prefere abreviar o abjeto apelido com um desenxabido “C” da mãe. Já quase estourando o riso. 

Rádio Clube do Pará - Vozes antigas do esporte




segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Theodorico: “O rádio me humanizou “





Theodorico à esquerda, entre Armando Marques e Manoel Francisco de Oliveira, usa uma jaqueta, cópia do uniforme de um árbitro inglês na metade dos anos 1960. Ele era quase um metrossexual. Empoava-se no rosto, usava cordões e pulseiras espalhafatosas e tanto com ou uniforme da PM  ou à paisana, era um cara cuidadoso com a imagem. 







Um dos personagens mais controvertidos na área policial- militar, o tenente Thodorico Rodrigues por mais de 20 anos foi árbitro de futebol. Sua carreira teve início no extinto campeonato suburbano de tempos idos –década de 1940.


Um impasse na escolha de um juiz para apitar uma partida amistosa interestadual entre o Remo e o Moto de São Luis em 1949 fez com que a então Federação Paraense de Desportos (FPD) a antecessora da FPF (Federação Paraense de Futebol) através de seu Departamento de Arbitragem, recorresse ao considerado melhor árbitro suburbano. E o Theodorico se saiu bem na missão. A partir de então teve início uma longa carreira que se estenderia até 1972.
Apitando jogos tanto em Belém como em outras capitais por ocasião do Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais que há muito tempo foi eliminado do calendário da CBF.

Colaborador por longos anos de jornais e revistas na área de arbitragem, ele terminou por se consagrar mesmo foi no rádio como o comentarista mais famoso de quantos tentaram êxito na função, sem entretanto conseguir. A exceção foi Manoel Nery Filho, o primeiro a se firmar através da Rádio Clube. E que cunhou um bordão até certo ponto original: “No fi-gu-ri-no” – dizia pausadamente quando confirmava um gol. Outros nomes que passaram pelas emissoras de Belém: Arlindo Louchards que teria sido o pioneiro na Marajoara e depois na Guajará. E mais: Fernando de Jesus Andrade e Manoel Francisco de Oliveira (excelentes na função de árbitro) ambos pela Liberal, além de Paulo Cecim pela Marajoara, antes de revelar-se como seguro debatedor e apresentador de TV e um bom comentarista técnico através da Clube.

Foi da autoria de Ivo Amaral a grife com a qual Theodorico seria consagrado no rádio esportivo: O Papa da arbitragem.

Em uma noite depois de sairmos do Diário do Pará, eu, ele e mais uma turma da redação, peregrinamos por alguns bares. Ao pararmos em um deles, na Cremação, fiquei conversando a sós com Theodorico que revelou-me alguns acontecimentos de sua vida. A começar por seu ingresso na Polícia Militar. Era da tropa de cavalaria. Certo dia estava lavando um cavalo, passando a escova no corpo do animal por um dos lados, sem querer se aproximar da cauda. De repente é observado por um coronel que lhe chama às falas. “Você está fazendo o quê com o cavalo?” –indagou em tom de voz ríspido.” Banhando o cavalo, coronel”, respondeu o iniciante cavaleriano. “E por que não fica atrás do animal?” –retrucou o superior hierárquico. “Ele pode me dar uma patada” –responde Theodorico ingenuamente. O coronel passa-lhe um ralho. “Quer dizer que você escolheu a cavalaria e tem medo de cavalo...” –ironizou. A partir daquele dia o soldado Theodorico esqueceu o que era medo.

Truculento e por vezes quase rude, ele protagonizou um acontecimento em meados dos anos 1970 que quase lhe custa a vida. Era o temível diretor da Colônia Penal de Cotijuba, que alguns até chamavam de “A ilha do inferno”. Sua fama de policial violento e desumano, por muitos anos o estigmatizou na PM e perante a opinião pública através da imprensa. Em uma viagem de Belém para a ilha, guarnecia sozinho na condição de policial, uma levada de presos. Em um trecho da viagem - já no fim da   madrugada para o amanhecer -, foi desarmado, feito refém da malta e depois atirado na água. Ele não sabia nadar. Teve uma das mãos colocada na quilha da embarcação e mutilada por uma paulada. Mas conforme comprovam as ironias da vida, um dos detentos o salvou. Arrastou seu corpo até a margem do rio e deixou-lhe jogado por lá. Foi resgatado cerca de três dias depois. Passou por uma longa temporada hospitalar e demonstrando   resistência física extraordinária, recuperou-se quase que totalmente do flagelo.

Na Marajoara e depois na Clube, Theodorico tornou-se um personagem burlesco por suas tiradas e expressões hilárias cunhadas por ocasião das transmissões do futebol. Uma espécie de Mário Vianna (ex-árbitro do futebol carioca e que se tornou conhecido por seus comentários jocosos no rádio) sendo mais criativo e regionalista nas frases de efeito.

Alguns desses bordões:

Saiu da figura A para a figura B (quando o jogador estava impedido).

Catando piolho em cabeça de surucucu (´árbitro estava inventando em alguma marcação).

Ele está vendo visagem (em jogos noturnos, sua crítica aos erros de arbitragem).

Gooollll le-gí-ti-mo (marcação correta de gol).

Está vendo com os olhos do Rei Clareão (quando o árbitro marcava alguma infração que ele considerava inexistente).

Foi nessa noite que ele fez uma revelação, não sei se sob efeito alcoólico ou simplesmente para dar uma satisfação que lhe estivesse sendo cobrada intimamente: “O rádio me humanizou”.
Ficou emocionado, eu senti naquela ocasião, mas evitei aprofundar o assunto. Era um leitor assíduo da antiga revista Seleções, foi outra de suas inconfidências. Escrevia com simplicidade e era objetivo no tema em que focava.

Morreu em 2010. 

Bandeira 10




Ela não foi a pioneira entre as mulheres na arbitragem do futebol brasileiro. A bela Ana Paula de Oliveira, porém, esparramava charme e sensualidade pelos gramados do país. Como todo árbitro de futebol, fez suas lambanças em campo na condição de auxiliar de arbitragem. Ou bandeirinha como eram conhecidos anteriormente os que exerciam a função. Sabia que era uma das estrelas da bola, ainda que não fosse jogadora. Na esteira dela vieram outras. Algumas bonitas ou   simpáticas, outras nem tanto. Mas ela foi a 10 com louvor.
 Certo sábado de um ano já nem tão recente, eu estava almoçando no extinto restaurante Palheta no aeroporto de Val de Cans. A bela bandeirinha se fazia presente em uma mesa acompanhada de um dirigente da nossa Federação de Futebol. Com os olhares masculinos convergindo pra ela. Ao sair do restaurante, Ana Paula que é esbelta e charmosa, sabia que estava sendo o alvo da macharada.
Uma bela mulher que teve a coragem de enfrentar os estádios lotados e encarar as feras do futebol por todo o país em tempos recentes.
Um exemplo valioso e só comparável à sua beleza.
Depois de participar por duas vezes do programa “A fazenda” da Record , além de outras atrações esportivas na televisão, Ana Paula agora está exercendo a função de coordenadora do Departamento de Arbitragem da CBF.
A foto reproduzida  da revista Playboy é do ano de  2007.


Campeonato suburbano



Norte Brasileiro (Cremação), Campina (Campina) e  São Paulo (Marco) foram times destacados no extinto campeonato suburbano.



Era uma das competições de futebol das mais prestigiadas sob a chancela da antiga Federação Paraense de Desportos (FPD) através do Departamento Autônomo de Futebol Suburbano. O campeonato suburbano até antes do surgimento do Peladão promovido a partir de 1970 pelo jornal “associado” A Província do Pará e encampado pela Federação Paraense de Futebol (FPF) tinha sobretudo o prestígio popular. Pelos diversos campinhos do subúrbio belenense – Norte Brasileiro, São Paulo, Liberto, Diário Oficial, Imperial, São Domingos, Uberabinha e Sacramenta entre outros –aos sábados e domingos à tarde o certame se desenrolava com extenso calendário de jogos que se estendia até o final do ano. Eram muitos os clubes participantes da competição. E vários craques galgaram o estrelato nos três grandes times da capital –Remo, Paissandu e Tuna – tendo como origem de seu futebol o campeonato suburbano. O mais emblemático de todos, o centro- avante Neivaldo que ao jogar uma única partida pelo Paissandu contra o Flamengo em 1959 ao final do jogo foi contratado pelo rubro negro carioca. E naquele tempo o Quarenta já era titular absoluto no meio de campo do Papão. Mas foi o Neivaldo quem encheu os olhos da cartolagem do Mengo. Se teve sucesso no transcurso da carreira, só recorrendo ao Google...

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

O bebê de terno e gravata


Na metade dos anos 1990 até o final da década, eu ia muito a São Paulo. Mais pro problema de saúde após uma cirurgia na garganta. Fazia – e ainda faço, agora em tempo muito mais espaçoso – acompanhamento com um excelente otorrinolaringologista de lá. O competente Dr. Osíris Camponês do Brasil. Sim, esse é o nome surreal do médico. Escolha do pai, me disse ele. 

E em minhas muitas, mas breves estadas na capital paulista, recorria ao meu cicerone predileto: o jornalista Leão Azulay, quase que meu aprendiz desde os tempos da lembrada revista GOL. E, algum tempo antes no  extinto jornal O Estado do Pará. Ele já era quase que um paulistano. 

Um dia Azulay me convidou a conhecer a redação da Folha de São Paulo. O prédio não era nada imponente, salvo engano, no centro da capital. Ao entramos em uma sala, havia tanta gente que fiquei espantado. Azulay sorriu. “Aqui funciona apenas a redação do jornal em online” – enfatizou. Naquela época, os jornais de Belém engatinhavam na informatização de suas redações. 

Comparo a Folha com o antigo e recém lançado Jornal do Brasil, cada qual com sua importância histórica e respectiva fase política. Ambos por algum tempo com inclinação editorial mais à esquerda. 

O jornalista Otávio Frias Filho, morto ontem aos 61 anos, por tudo o que li sobre ele e especialmente através da percepção que fazia sobre suas fotos, me parecia um bebê que já nasceu de terno e gravata. Precocemente adulto. Sisudo e sempre a demonstrar através da face a eterna preocupação com algo. Ou com a vida toda. 

Inteligente e culto, a meu ver, sofria da obstinação perfeccionista que parece corroer os que nunca acham nada inteiramente bem feito. Perseguem a perfeição, mesmo sabendo não poder alcança-la. Tornam-se, porém, obcecados por essa ideia que lhes parece tangível. 

Um jornalista que trabalhou na Folha, comentou comigo certa vez em São Paulo sobre o Manual da Redação do jornal: “Se a gente seguir rigidamente o que ele manda, não se consegue escrever quase nada”. E de quantos manuais mantenho até hoje – O Estadão, Editora Abril, Bloch, O Globo e Jornal do Brasil, os principais – sem dúvida o da Folha é muito mais rigorosa no que concerne à técnica redacional. Só para citar um exemplo: lá ensina-se que o “P” da palavra pais só se escreve em caixa alta (maiúscula) quando se trata do Pais de Gales. Fora a única exceção, nem em se tratando do Brasil, admite-se escrever com letra maiúscula. Possivelmente uma visão técnica de Frias Filho. 

A capa da extinta revista Imprensa que ilustra meu comentário é do ano de 2007. Nela está inserida uma extensa entrevista com o reformista diretor-de-redação da Folha, que assumiu a direção do jornal a partir de 1984, quando tinha apenas 27 anos. 

Otávio Frias Filho, sem dúvida marcou uma época no jornalismo brasileiro.

sábado, 18 de agosto de 2018

O melhor dos amapaenses


O rádio esportivo de Macapá em tempos idos tanto recebia valores de Belém como igualmente fornecia talentos para as emissoras de nossa capital. 

Naquela época remota, Júlio Sales, um dos mais longevos locutores em atividade no rádio cearense, foi o primeiro a deixar Belém para atuar na Difusora do então território federal. Ele já passara pela Marajoara e Clube e em Macapá na segunda metade da década de 1950, além de narrador de futebol, era animador de auditório, repórter de rua e nas horas vagas também ator de novelas. Há quase seis décadas, Júlio que por muitos anos foi o titular da extinta e prestigiosa Uirapuru de Fortaleza, passou por outros prefixos alencarinos até se fixar na Assunção. Onde também atua o filho Mário Sales, que se iniciou, tal como o pai, no rádio de Belém. 

Outro que teria rápida passagem pela mesma Difusora, foi o saudoso José Simões, igualmente como Júlio, um narrador principiante na Rádio Clube. Não foi muito demorada também, a permanência de Carlos Cidon no começo dos anos 60 na extinta Equatorial de Macapá. 

Inversamente à “exportação” de narradores, vindo da capital do hoje estado do Amapá, chegaria em 1958 João Álvaro, paraense, mas que trabalhou por algum tempo no IBGE de Macapá e em Belém chegou ao cargo máximo de gerente do órgão federal. Revelou-se um excelente repórter, ainda que sendo uma pessoa de temperamento calmo, sem ser no entanto retraído, mas sempre antenado à notícia. Durante muito tempo apresentou uma sequência dentro do programa O Cartaz Esportivo –O Fato do Dia – no final da tarde. Tinha sempre uma entrevista factual gravada ou ao vivo para oferecer aos ouvintes. Era um entrevistador de perguntas objetivas mas sólidas no conteúdo. No gramado, com o famoso BTP (aparelho comprido com uma antena e um microfone acoplados e com uma nitidez de som excelente) enfrentava a concorrência à altura de Abílio Couceiro pela Marajoara. Se equivaliam. Até na leveza vocal. 

Depois que João Álvaro assumiu a chefia do IBGE, afastou-se do rádio e só eventualmente comentava jogos pela Marajoara, quando Carlos Castilho,o comentarista titular, tinha que se ausentar de Belém por força de seu emprego na Patrobrás. Pois para substitui-lo, com rara simetria, tanto na voz de timbre baixo, mas dotado de bom improviso e sendo um repórter diligente, outro bom valor do rádio macapaense aportou em Belém. Guilherme Jarbas, que pertencia à Difusora, passou a substituir João Álvaro no Fato do Dia. Ele também era narrador, embora fosse melhor na função de repórter. 

Quase ao mesmo tempo (1970) surge em Belém o garotão Guilherme Pinho dotado de boa voz e dicção clara, além de fácil expressão verbal. Ele fora revelado pela terceira emissora de Macapá, a Educadora São José. Explodiu rapidamente na Marajoara e sem tanta demora foi contratado pela Clube. Que naquele tempo sentira muito a saída de Cláudio Guimarães para a nova equipe da Liberal. Pinho, porém, talvez pela própria idade, era um tanto amolecado, comportamento que destoava na equipe chefiada pelo mítico e disciplinador Edyr Proença. Empolgado pela fama que rapidamente viu aparecer, ele se transfere para a nova equipe da Liberal onde já estavam entre outros nomes de peso além de Cláudio Guimarães, Jayme Bastos, Grimoaldo Soares, Luiz Solheiro e ainda o plantonista Bellard Pereira. 

Em pouco tempo, porém, Guilherme Pinho estava saindo da Equipe Legal e sem mais ambiente em Belém, transferiu-se para Fortaleza onde trabalhou em várias emissoras, deixou o microfone esportivo e passou a apresentar um programa político em uma das rádios AMs . Depois de formado em Direito trabalhava na assessoria jurídica da Câmara Municipal. Teve morte trágica –foi assassinado – no início do novo século. 

De toda essa gama de valores amapaenses, o mais famoso, entretanto, não veio para Belém. O competente narrador Guioberto Alves preferiu aceitar a tentadora oferta financeira da então poderosa Rádio Difusora do Maranhão e foi substituir Walbert Martins, o popular “Canarinho”, hoje com mais de 80 anos, embora não mais transmitindo o futebol, e que se transferiu para a Timbira, a grande concorrente da Difusora em São Luis. Guioberto chegou e conquistou a audiência logo de cara. Tinha voz agradável, pronuncia esmerada e ainda era bem articulado. Nesse tempo eu ouvia muito as emissoras maranhenses através das ondas curtas. Morreu de um acidente quando retornava de Teresina em um jipe juntamente com Herbert Fontenele (recentemente falecido). Sua morte foi uma consternação na capital timbira. Mereceu até honras de estilo por parte de todo o rádio timbira. Atuou por cerca de uma década na Difusora (1963/72). 

A emissora teve muitas dificuldades para encontrar seu substituto e recorreu até ao rádio paulista sem conseguir êxito, tamanha era a maciça audiência dos ouvintes identificados com o estilo de Guioberto. Um dos melhores do Norte de todos os tempos.

Euclides Farias partiu de repente


Nem da nova e nem da velha guarda do jornalismo paraense. O amapaense Euclides Farias que morreu nesta terça-feira (14) poderia se inserir na média guarda da mídia impressa de Belém. Sem chegar aos 60 anos (tinha 59) ele que faleceu vítima de leucemia. Euclides por muitos anos integrou a redação do jornal A Província do Pará, ao tempo dos “Associados”. E sobressaiu em uma entrevista do então governador Hélio Gueiros que estava sendo sabatinado em um programa na TV Cultura durante a conturbada campanha eleitoral de 1990. 

No decorrer da entrevista, o jovem repórter formulou uma pergunta que desagradou o governador, que mesmo sendo jornalista, mas estando no exercício do poder, mostrou-se incomodado pela indagação e chegou a insinuar que Euclides estaria procurando ajudar o candidato da oposição (o candidato de Gueiros era Said Xerfan, pois naquele tempo ainda não havia a reeleição) ninguém menos que Jader Barbalho, um ex-aliado e àquela altura seu inimigo figadal e que terminou por vencer a eleição. Mais tarde, Gueiros e Jader se reconciliaram politicamente. Coisas própria da política. 

Minha aproximação com Euclides Farias, embora eu sendo bem mais velho do que ele, foi nas noites de boemia, principalmente na boate Lapinha, reduto maior da animação noturna belenense. Certa vez estando em companhia do saudoso Ronaldo Bandeira, ele chegou justamente na hora em que se exibiam no palco, as veteranas e já um tanto “sambadas”, Gretchen, Rita Cadilac e uma outra contemporânea. Ele sentou a nossa mesa e ironizou: “Eita putaiada veia”. Gargalhamos juntos. 

Na foto, Euclides é o primeiro da esquerda para a direita, junto com Zaire Filho, Antônio Carlos Nunes, Ferreira da Costa, Aderson Maia e eu. Foi por ocasião do 29º congresso da Abrace realizado em Belém em maio de 2003. Ele integrava a Assessoria de Comunicação Social do governo estadual quando o atual governador Simão Jatene foi eleito pela primeira vez.

O paizão Manoel Chipelo


Quando os jogadores da Tuna estavam sem grana, já sabiam a quem procurar. Em uma espécie de comédia ensaiada, dirigiam-se ao local onde trabalhava um dos mais conhecidos dirigentes do clube cruzmaltino. Era em uma serraria que ficava na Estrada Nova e integrava o poderoso grupo de Antonio Maria Fidalgo & Cia especialista no ramo de material de construção civil. Chipelo era uma espécie de gerente-geral da empresa. 

Logo ao se aproximar, já avistavam o prócer (hoje, cartola) quase aos brados e com gestuais negativos ao balançar tanto a cabeça como os braços: ‘Hoje não tem nada de dinheiro. A Tuna está sem poder adiantar vales para ninguém. Vão embora”. Como que seguindo um roteiro prévio, a turma fingia dar meia volta e cabisbaixos rumavam em sentido contrário ao de Chipelo. Mas logo ouviam um grito: “Venham cá. Mas nada de quantias altas que eu não tenho. Vou ver como poso fazer para arranjar uma “gaitinha” (dinheiro) pra vocês”. E ia atendendo a cada jogador em quantias que se aproximavam ao que eles realmente desejavam. Ninguém saia insatisfeito, pois o coração generoso de um dos mais dedicados dirigentes da Tuna de todos os tempos entendia que seus atletas ao lhes procurar, precisavam da grana naqueles tempos de salários baixos que o futebol paraense costumava pagar. E a Lusa era dos três grandes da capital o time considerado de maior expressão financeira. Seus diretores comandavam o comércio em geral de Belém. Desde panificadoras, grandes lojas de tecidos, transporte coletivo, sem contar o leite in natura distribuído a domicilio nas carrocinhas, que de manhã cedinho rodavam pela cidade e pelos subúrbios. 

A decadência da Transportiva (um de seus primitivos apelidos) começa quando essa grande colônia lusitana vai desaparecendo a partir da década de 1990. Não houve a necessária transição por parte dos seus herdeiros. Pouquíssimos interessados em seguir a carreira comercial dos pais. E a maioria esmagadora torcendo pelo Remo ou Paissandu. 

Começava o declínio de um dos mais tradicionais clubes do futebol paraense. Mas ainda há tempo da Lusa se reerguer. Há quem veja na contratação de Junior Amorim para dirigir o time na Segundinha, uma retaguarda financeira sólida com a presença de novos dirigentes. Imbuídos de vontade e grana para fazer a Tuna a voltar ao seu merecido lugar como o terceiro clube grande da capital. Sua pequena mas aguerrida torcida espera por isso.

O goleirão Délcio tinha o DNA na posição



Uma família de goleiros, a começar pelo pai. O goleirão (era bastante alto, mas ágil também nas bolas rasteiras) Délcio tinha outros três irmãos que jogaram na mesma posição e com o mesmo status de bons arqueiros. A família era de Cachoeira do Arari, no Marajó. 

No início da década de 1960 veio para Belém jogar nas divisões de base da Tuna. Mas logo já era o goleiro titular do time principal. Excelente tanto nas colocações embaixo da trave nas defesas rasteiras quanto nas saídas das bolas aéreas. Quase soberano nas jogadas pelo alto. Sua estatura elevada e a sempre atenta colocação na pequena área, facilitavam seu desembaraço no gol. Seu único e fatal defeito era a bebida. Naquele tempo no time da Lusa quase só não bebia o técnico. O time titular de bom nível técnico era formado em sua maioria por biriteiros como o zagueiro Prata, o craque da Silva, - cracaço como meia-armador - e os atacantes Mário, Nascimento e Santiago. Os outros não se excediam tanto. 

A Tuna aproveitou a passagem do Sport Clube do Recife por Belém, e emprestou Délcio e Prata ao clube pernambucano. Délcio destacou-se tanto que já era cogitado para integrar a Seleção Brasileira. Mas um incidente em uma boate, quando o goleiro foi baleado, encurtou a carreira dos dois atletas em gramados do Recife. Retornaram a Belém e continuaram a jogar na Tuna. Délcio ainda passaria pelo Paissandu mas sem tanto brilho e antes de completar 10 anos de atuação encerraria definitivamente sua trajetória que poderia ter sido mais prolongada e exitosa fora de Belém. Isso era quase que a regra naquela época do futebol romântico. Grandes jogadores viveram o mesmo drama social. Em todo o país. a

sábado, 4 de agosto de 2018

Gênios da bola


Eu tive o privilégio de vê-los jogar. Ainda pré-adolescente, assisti Garrincha dar um show de bola – para variar...- jogando contra o Remo, no antigo estádio do Souza. Endiabrado, em uma jogada saiu driblando quantos lhe aparecessem à frente, incluso o goleiro azulino, naquele tempo remoto (1959), o Piedade. Não recordo se fez o gol. Talvez, não. O time alvinegro era uma autentica seleção. Além dele, Didi, Nilton Santos, Quarentinha e Zagalo. Só jogadores em nível do escrete canarinho. 

Didi, por sinal, arrancou aplausos unanimes no estádio da Tuna ao mirar Garrincha na ponta direita e enviesar um longo passe que chegou ao Zagalo na esquerda. Uma esplêndida jogada, literalmente, de um grande mestre. O meia botafoguense não olhava para o chão. Sempre de cabeça erguida, caminhava com a bola colada aos seus pés. Ela a obedecia. Era um negro elegante. Ereto na postura. Tanto em campo como fora dele. 

Quanto ao Pelé, já passado dos 20 anos, em noite memorável no Baenão, no ano de 1965, o Rei entrou em campo com a camisa do Remo e um buquê de flores na mão direita. Foi ovacionado pelo numeroso público presente ao estádio azulino. 

Um detalhe importante desse jogo: o Remo que foi o campeão paraense de 1964 estava com seu time considerado titular em excursão pelo Acre. Por isso jogou com uma equipe considerada como reserva. Mas que tinha excelentes jogadores como a dupla de atacantes Rangel e Zezé. O quarto-zagueiro Socó que era militar integrou o time, pois não pode viajar com a equipe que foi ao Acre. Naqueles tempos idos o elenco remista tinha quase 40 jogadores que residiam, (a maioria), em um imenso casarão na avenida Alcindo Cacela, próximo a Magalhães Barata. 

Para incendiar o Baenão, o Remo chegou a estar à frente do placar por 2 a 1. Foi quando Pelé se “aborreceu” e o Santos enfiou um gol atrás do outro até chegar ao extravagante escore final de 9 a 4. Com um dos gols santista sendo feito em tabela de Pelé com o próprio Socó... O fabuloso jogador entrou na área remista e perseguido pelo zagueiro, tabelou em uma de suas pernas e a bola acabou entrando no gol azulino. Lance de craque. Aliás, o maior do mundo de todos os tempos. 

Por que cito essa façanha de ter visto os dois “ao vivo” em Belém? Simplesmente por naquela época tão longínqua, as grandes equipes nacionais quase não visitarem Belém. E só se assistia aos campeonatos do Rio e São Paulo –principalmente – pelas telas do cinema. Antes do filme começar, nos famosos jornais da Atlântida. Apenas alguns lances e gols (claros) dos jogos. E a televisão ainda não chegara por aqui. E Nem ao tempo em que Pelé veio pela primeira vez a Belém, raros eram os jogos vistos pela tevê. O vídeo tape era tecnologia recente no país. Imagens diretas? Nem pensar. Eram outros tempos. Nesse quesito, sem deixar saudades.

Anúncios & Recordações


No passado mais remoto, os jornais eram os veículos onde as equipes esportivas das emissoras de rádio mostravam seus programas e com isso realçando também os integrantes dos seus times. 

Rádio Clube, Marajoara, Guajará (em duas épocas distintas) e Liberal desde 1970, além da extinta Difusora (Liberal) divulgavam seus anúncios nos jornais da época: Folha do Norte, A Província do Pará, O Estado do Pará, Jornal do Dia, O Liberal e Diário do Pará. E ainda a lembrada revista GOL. 

Vale a pena recordar algumas dessas peças publicitárias das décadas de 1950/60/70/80 e 90.

Clube X Marajoara


Jogavam os dois times das duas únicas emissoras existentes em Belém: a PRC-5 velha de guerra, naqueles tempos idos conhecida quase só pelo seu prefixo do que pelo nome Rádio Clube do Pará e a Marajoara, do poderoso grupo dos Diários Associados. 

O jornalista paraibano Frederico Barata que comandava os “Associados” em Belém, chega ao estádio do Souza e já encontra Edgar Proença, um dos fundadores e dono da pioneira PRC-5. Cumprimentam-se e Barata vai logo de desculpando:” Cheguei um pouco atrasado, mas de qualquer modo e sempre bom ver a fraternidade entre as nossas rádios”. Proença sorri ironicamente e responde; “Foi bom pra você que não viu a porrada comendo solta em campo”. Os dois times haviam protagonizado um autêntico espetáculo de MMA no gramado. Mas entre “mortos e feridos” ninguém sequer se ferira. 

Esse episódio é contado no livro do saudoso José Maria Simões, “42 anos –Uma vida no esporte “– lançado em 1997. 

Na equipe da Rádio Clube além de Simões que era o goleiro, jogavam entre outros, Napoleão Cruz, Jessé Bastos e Milton, que era o motorista da vistosa caminhonete Plymouth da emisora. Pela Marajoara, o lembrado Jayme Bastos, Orlando Barros que até há pouco tempo atuava como plantonista na Cultura; o falecido humorista Armando Pinho, Arlindo Louxards, ex-árbitro e o pioneiro nos comentários de arbitragem no rádio paraense, e os cantores Mário Costa e Augusto Silva. 

Será que ainda há “sobreviventes” daquela época de ouro do rádio paraense?

O jogo foi realizado na preliminar de uma partida interestadual com a participação de um dos três grandes da capital – Remo, Paissandu ou Tuna – em 1959.

sábado, 14 de julho de 2018

O Mundial das surpresas


França ou Croácia? Com quem ficará o título da Copa do Mundo de 2018? As duas seleções são merecedoras do galardão do torneio mundial. Especialmente a Croácia, desde o início da competição uma grata revelação por seu futebol veloz, alegre e sobretudo ofensivo. Jogando com muita raça, técnica e tática modernas. Desde as eliminatórias já se mostrara como uma seleção promissora. E confirmou esse vaticínio.

A França com apenas um título na competição maior do futebol universal, quando conquistou a taça ao chancelar o torneio mundial de 1998 em seu país, mostrou igualmente um futebol vistoso, com jogadas de ataque rápidas e infiltrantes através de seus laterais e atacantes pelos flancos do campo. Com chutes fortes e certeiros em sua maioria ao gol adversário.

Sem ser um prognóstico dos claudicantes muristas, acho que o título ficará com qualquer um dos dois melhores times da competição. Embora a equipe gaulesa tenha um naipe de jogadores credenciados pelos grandes times que integram fora de seu país. A Croácia, no entanto, pode ser a grande “zebra” pressentida com percentual elevado de se concretizar. O que na realidade não se constituirá em uma surpresa absoluta.

A eliminação do Brasil nas quartas de final, não foi decepcionante. Outras grandes seleções e consideradas até como favoritas, voltaram mais cedo para casa: Argentina, Alemanha, Espanha e Uruguai. Sem contar Itália e Holanda que nem participaram da Copa.

Bira e seus irmãos


Cinco irmãos jogarem no mesmo time já é algo extraordinário. E todos sendo titulares, talvez, uma façanha inédita. Digna de figurar no Guines, o livro dos recordes. 

O velho Herundino que fora um grande artilheiro no ataque do Esporte Clube Macapá, na década de 1950 era pra lá de radical: “Algum filho meu que jogar pelo Amapá (adversário e maior rival de seu time) sai de casa”. Por isso ninguém se arriscaria a desgostar o pai. Bira, Aldo, Marco Antonio, Assis e Haroldo, atuaram juntos pelo clube que corresponderia ao Remo amapaense. As camisas eram na cor azul. E o Amapá, embora listradas, era alvi- negro, mas a galera contrária ao Macapá, considerava-o como se fosse o Paissandu. 

Em tempos idos, o Amapá, era um dos cinco territórios federais do país. 

Bira e Aldo vieram jogar no Papão em 1976. E logo ganharam vagas garantidas no primeiro time bicolor. No ano seguinte, um acerto de bastidores em razão de pendencia jurídica sobre o campeonato de 1976 vencido em campo pelo Papão, mas com a ausência do Remo nas partidas finais, o atacante transferiu-se para o Baenão, E o Remo desistiu do processo no STJD. 

Impetuoso, veloz e sobretudo goleador, Bira sagrou-se tri campeão azulino em 1977/78/79. Foi o maior artilheiro do Leão até hoje no campeonato paraense. Marcou 32 gols no Tri de 1979. Cresceu a fama quando marcou cinco gols em um jogo contra o Guarany de Campinas no Mangueirão. O Bugre campineiro foi o campeão brasileiro daquele ano. Em 1980 Bira teve seu passe comprado pelo Internacional onde brilhou por três anos. E depois ainda jogaria no Juventus paulista e vários outros times. Ao encerrar a carreira em 1986 tornou-se treinador chegando a comandar o próprio Remo, Paissandu e Tuna além de outras equipes do interior. 

Aldo também teve vitoriosa trajetória no Fluminense onde foi titular da lateral- direita por alguns anos. 

Segundo dizem em Macapá, o melhor dos cinco irmãos era Assis, meia-armador, mas que por ser funcionário federal nunca quis arriscar o cargo que ocupava no governo amapaense pelo futebol em outro estado. 

Plantonistas Famosos


Em tempo remoto a voz clara e possante de José Maria Nobre Gonçalves interrompia a transmissão do futebol narrado por Edyr Proença: “Alô, Edyr”. “Fala Zé” – era a brecha do saudoso speaker esportivo para que seu informante do Plantão noticiasse algum resultado importante de jogos pelos pais e pelo mundo afora. 

O Plantão Esportivo da Rádio Clube comandando por Carlos Alberto Pires Vieira, um rádio-escuta dotado de ouvido absoluto naquele tempo das “corujas permanentes” às emissoras de fora apenas pelas chamadas ondas curtas, era outro ponto alto do departamento esportivo da pioneira PRC-5. 

José Maria Gonçalves, contudo, era funcionário da Caixa Econômica e em meados dos anos 1960 foi transferido para o Rio de Janeiro. Ficou uma lacuna na informação plantonista. A extinta Guajará revelara através de seu QG dos Esportes (sigla que significa Quartel- General e adequado ao regime militarista que comandava o Pais naquela época, metaforicamente, equivalente ao Plantão) o locutor comercial Eduardo Tavares. Edu tinha voz aveludada, de timbre agradável e dicção esmerada, além do improviso correto quando por qualquer motivo a transmissão do jogo sofresse alguma interrupção momentânea. Foi a encomenda certa para substituir o antigo titular, por mais de 10 anos. Trocou o rádio pelo exercício da medicina. Morreu em 2010. 

Na atualidade, Carlos Alberto de Alverga que agora acumula a escuta - hoje facilitada pela internet – e também a informação, na equipe da Marajoara e Reinaldo Vieira, plantonista- informante da Liberal, com voz de boa entonação, são os nomes de maior destaque no Plantão das emissoras que transmitem o futebol em Belém.

Isaac Pais e suas controvérsias


O português Isaac Pais, por muito tempo atuou na imprensa esportiva belenense. Começou escrevendo uma coluna no extinto jornal “associado”, A Província do Pará, de onde foi depois seu editor, na metade dos anos de 1960. Nesse tempo eu atuava na Revisão. E trocávamos esparsas conversa na redação. Isaac era quase que um outsider entre a turma do jornal. Ainda que fosse relativamente novo. Gostava de escrever. Era extensivo em seus textos e comentários. Mas demonstrava consistência no que abordava. Dizia-se diplomado tanto como árbitro e ainda treinador pela FIFA. Chegou até a dirigir o departamento especializado (árbitros) da antiga Federação Paraense de Desportos (FPD), antecessora da FPF. 

E como técnico teve uma única experiência. Por sinal, desastrosa dirigindo a seleção paraense em um amistoso contra a seleção amazonense, em Manaus. Perdemos por 7 a 0. Mas quando retornou a Belém, Isaac justificou tintim por tintim todos os gols sofridos naquele placar vexatório. Quase consegue convencer. Era seu jeito de ser, sempre refratário à autocrítica. E excedendo-se na autoconfiança. Um presunçoso. 

Trabalhamos juntos no Liberal. Foi paciente comigo que era um péssimo datilógrafo no início da carreira. Por várias vezes almocei em sua residência que ficava em uma vila em frente ao Colégio Nazaré. Da mesma maneira nos eventos familiares como o aniversário da única filha. Mas nem por isso deixou de pedir minha cabeça ao Rômulo Maiorana quando entrei em uma lista de demissões. O saudoso e prestigiado fotógrafo Pedro Pinto intercedeu por mim junto ao RM e passei a ser repórter da Editoria de Cidade. O lembrado Walter Guimarães era o Chefe-de-Reportagem. 

Quando a Rádio Liberal passou a integrar o grupo de comunicação das ORM Isaac por breve tempo chefiou sua equipe esportiva. E passou a comentar alguns jogos numa linguagem quase grotesca chamando a bola de esférico, a trave de moldura, o goleiro de guarda-valas e por ai seguia sua romaria idiomática genuinamente lusitana. 

Um dia resolveu em sua coluna sugerir uma nova estratégia tática ao Remo. Que nesse tempo era comandado por ninguém menos que Zizinho. O Leão jogaria o clássico de um domingo à tarde no tradicional Re-Pa. 

À noite, com o placar da partida já definido – salvo engano, empate – Mestre Ziza comparece a um programa da extinta TV Marajoara, ancorado por Ivo Amaral que anuncia a participação de Isaac Pais nos debates. Mas ele ainda não se fazia presente ao programa. Zizinho estava com um jornal nas mãos. 

Ao se aproximar da metade do programa, Ivo anuncia que Isaac não se faria presente por estar acometido de forte resfriado, conforme telefonara justificando sua ausência. 

Foi o passe que Zizinho esperava. Dirigindo-se ao apresentador, ele disse que mesmo que o jornalista comparecesse, não debateria com o mesmo.” Esse cara entende muito mais futebol do que todo mundo” – ressaltou Ziza. E continuou: “Ele armou um esquema que somando tudo vai dar em 12 jogadores. E eu até hoje só conheço time com onze”. 

No dia seguinte em A Província”, sendo motivo de zoeira geral, ele não se fez de rogado. Chamou Zizinho de imbecil, pois apenas “hipoteticamente” admitira aquela “tática” com 12 jogadores. Piorou o lance. 

Ele ainda passaria pela redação do extinto O Estado do Pará ao tempo em que o jornal da família de Lopo de Castro foi arrendado à empresa Néo Administração e Participações em fins dos anos 1980. 

Faleceu em 1990.

Livro do Quarenta

A longa e gloriosa  trajetória não só no futebol, mas em sua existência longeva de 90 anos benfazejos, estão compilados no livro que o conhe...