sábado, 18 de maio de 2019

A história do rádio paraense

Em um trabalho que durou sete anos de exaustiva pesquisa, lancei em 2010 o livro Rádio Repórter – o microfone aberto do passado. 

Embora contando como aconteceu o surgimento de cada uma das seis emissoras de Belém:– Clube, Marajoara, Difusora (depois Liberal), Guajará, Nazaré e a caçula Maguary, foquei pormenorizadamente nos grandes comunicadores que considero que inauguraram uma nova era no rádio AM paraense: Almir Silva, Adamor Filho, Antonino Rocha, Costa Filho, Eloy Santos, Haroldo Caracciolo, José Travassos, José Guilherme, Kzan Lourenço, Max Menezes, Paulo Ronaldo, Roberto Chaves, Ronald Pastor e Sandro Vale. 

Naquela ocasião, fui entrevistado pelo jornalista Guilherme Augusto em seu programa semanal “Mais” na RBA, canal 13. 

Reproduzo a entrevista na íntegra, lembrando que algumas pessoas sobre as quais posso ter falado a respeito já faleceram como Jayme Bastos, ainda bem vivido naquele tempo. 

A edição total do livro foi esgotada.


Três estádios na mesma avenida


Um fato curioso, senão inusitado, chama a atenção no futebol paraense. Os três maiores clubes da capital, Remo, Paissandu e Tuna, têm seus estádios localizados na mesa rua. 

Os dois maiores rivais, um quase em frente ao outro. A distancia que separa a rua Antonio Baena, da Curuzu, é de apenas um quarteirão. O estádio do Papão considerado o “vovô” da cidade, pertencia à empresa (naquele tempo firma) Ferreira & Comandita e situava-se onde é hoje o conjunto residencial do IAPI em São Bras. Foi lá que se realizou o primeiro Re-Pa no remoto ano de 1914. Depois a firma transferiu o estádio para a travessa da Curuzu e em 1918 foi comprado pelo Papão. 

A Curuzu como é chamado popularmente o estádio Leônidas Sodré de Castro, passou por várias transformações estruturais até chegar ao moderno estádio que hoje tem capacidade para 15 mil torcedores e dotado até de hotel para os seus jogadores em suas próprias dependências internas. É o mais bem estruturado dos três estádios clubísticos. Nele o Papão já conseguiu grandes feitos como por exemplo a vitória por 3 a 0 sobre o Penarol, e uma das duas conquistas da Segunda Divisão nacional em 2001 contra o Avaí. Evidente que já teve também seus fracassos – mais recentes - como o Salgueiraço quando perdeu o título da Terceira Divisão para o Salgueiro em 2010. A sonora goleada em 1966 para o Náutico do Recife por 6 a 0 pela Taça do Brasil daquele ano. Dois títulos estaduais em 1968 para o Remo e 1970 pra Tuna. Coisas normais no futebol. Mas a Curuzu velha de guerra é o “alçapão” que apavora os adversários do Paissandu quando a Fiel torcida bicolor resolve apoiar em peso seu time contra um adversário. O caldeirão explode de entusiasmo. 


O Remo só teve seu estádio próprio a partir do ano de 1917 quando foi construído o conhecido estádio de Antonio Baena. Ainda que a fachada do estádio seja pela avenida Almirante Barroso, tal como a Curuzu, prevaleceu a rua transversal para a denominação do estádio azulino. Aliás, naquele tempo longínquo ninguém chamava estádio de futebol e sim “campo”, simplesmente. 

Só em 1935 é que o hoje chamado Baenão vai passar por melhorias estruturais e inclusive dotado de iluminação para os jogos noturnos. No decorrer do tempo, outras reformas foram sendo introduzidas no estádio, mas a grande mudança só acontece mesmo em 1962 quando é reaberto depois de quase seis anos desativado. Daí em diante é quando passa a chamar-se Evandro Almeida em homenagem a um ex-craque de futebol e que depois se tornaria dirigente quando é implantada a fase profissional em nosso futebol. O estádio ressurge imponente, dotado de tuneis (uma novidade em Belém), modernas arquibancadas todas em alvenaria, cabines de imprensa, rádio e TV, além das dependências isoladas da diretoria e visitantes. 

Baenão mesmo, só quando passa por reformas de ampliação das arquibancadas atrás das metas pela avenida Almirante Barroso (entrada) e feira da 25 de Setembro, hoje avenida Rômulo Maiorana. É quando o Remo começa a disputar o Campeonato Nacional da Primeira Divisão em 1972. 

Após cinco anos fechado sua reabertura marcada para acontecer em julho próximo é aguardada com muita expectativa por parte de sua grandiosa torcida, denominada de Fenômeno Azul. Mas ainda sem a iluminação restabelecida. Para que isso acontecesse, foi fundamental o apoio de sua apaixonada galera através de promoções que amealharam grana para investir nas obras do velho/novo estádio. 

No Baenão já aconteceram conquistas memoráveis e decepções proporcionais aos triunfos, alguns até históricos. Tudo tributado ao próprio futebol que tem no imponderável um de seus místicos ingredientes. O Sobrenatural de Almeida como o definiu abstratamente o genial Nelson Rodrigues. 


O último dos três grandes clubes metropolitanos a entrar na disputa do futebol, a Tuna Luso Brasileira que já foi Caixeiral e Comercial anteriormente ao nome definitivo desde 1958, construiu o chamado Campo do Souza que também fica na avenida Almirante Barroso, embora bem distante de Baenão e Curuzu - no sentido São Braz ao Entroncamento – no ano de 1935. 

Com ajuda de grandes cruzmaltinos endinheirados daquela época, o “Souza” –hoje Francisco Vasques – custou uma fortuna (cerca de 50 mil reais) em moeda corrente (cruzeiro) e sua iluminação primitiva foi uma das mais eficientes naquele tempo de eletricidade fornecida pela Para Eletric. Toda a instalação das luminárias foi comprada no sul. 

Na década de 1950 o estádio cruzmaltino torna-se um dos melhores do Norte/Nordeste. O gramado era um tapete verde. A iluminação com quatro torres situadas nos quatro cantos do campo, era como se fosse “um dia”, tamanha era a potência de suas luminárias. 

Quando Remo e Paissandu fecharam seus estádios para reformas estruturais por mais de cinco anos, o “Souza” era o único estádio em ação para disputas de jogos oficiais ou amistosos. Lá se exibiram Benfica, Seleção carioca e Botafogo, entre outros grandes times da época. Lá também foram realizadas as decisões dos campeonatos paraenses de 1956 até 1962. A maioria entre Remo e Paissandu. Só em 1958 Remo X Tuna. 

Depois da reabertura do Evandro Almeida, o estádio da Lusa paraense foi sendo –descartado para os grandes jogos. De sua estrutura original somente a construção das arquibancadas que ficam atrás das duas traves, além dos dois túneis localizados na lateral da arquibancada de fundo do estádio. O “Francisco Vasques” ainda dispõe de espaço na lateral direita de quem entra, para a expansão de uma grande arquibancada. Sua iluminação há muitos anos deixou de funcionar. 

O estádio perdeu sua importância à medida que o futebol da Tuna foi definhando. 

Era tão distante do centro da cidade que no dia de grandes jogos alguns ônibus passavam a fazer a linha FUTEBOL o que indicava que seu trajeto se estenderia até o estádio do Souza. A ida nem sempre correspondia à quantidade de transporte coletivo para o retorno. Especialmente se o jogo fosse noturno.

Os rebarbados (5)

Bosco era um craque. A legião santarena Bosco, Darinta, Odilson e Zuza.

O meia Bosco não era chegado a mimimis. Fosse por parte de seus colegas de time e principalmente da cartolagem. Disse algo pra ele, ouvia a resposta na lata. Era o seu estilo de craque rebelde. 

Ele integrava a legião santarena que aportou na Tuna em princípios dos anos 1970. Entre eles, Darinta, Zuza, Belterra e. Todos com o pedigree de titulares no time da Lusa do Souza. Bosco por quase dez anos formou uma dupla de meio campo com Antenor, que dava gosto vê-los jogar. O time cruzmaltino parece que tinha a primazia dos jogadores que se sobressaiam no futebol mocorongo. E reciprocamente a Águia sabia acolhê-los no Souza. Embora quase todos, algum tempo depois tivessem seus passaportes liberados para a Curuzu ou Antonio Banea. Remo e Paissandu exerciam terno fascínio nos craques interioranos. 

Bosco juntamente com Antenor foi emprestado ao Paissandu em 1973 quando o Papão estreou na Primeira Divisão nacional com uma péssima campanha. Evidente que os dois jogadores da Lusa fracassaram juntamente com o time todo. 

No prolongado tempo em que jogou na Tuna –quase dez anos – Bosco sempre esteve em evidencia por seu gênio forte. Contestador de situações que não o agradavam, discutia com técnicos e dirigentes quando se considerava prejudicado. 

Em um jogo pelo campeonato paraense, contra o time do Sport Clube Belém, naquele tempo considerado a quarta força do nosso futebol, ele pediu para ser substituído. A Tuna vencia a partida até aquele instante. Sua saída provocou a reviravolta no placar em favor do Brasinha da Aeronáutica. 

Nos vestiários, o diretor de futebol tunante, Manoel Chipelo que embora sendo considerado um paizão pelos jogadores, tinha seus arroubos quando perdia as estribeiras. E na frente de todo o elenco, culpou abertamente Bosco, insinuando corpo mole para sua substituição. O jogador não aceitou a suspeita e rebateu com malcriações. Foi quase que afastado sumariamente do elenco. Depois de passar pelo Paissandu, Bosco voltaria a Tuna e em seguida foi emprestado ao Fast Clube de Manaus e ao voltar a Belém encerrou a carreira no Sport, mas apenas por pouco tempo. 

Bosquinho era filho de Balão, um dos ícones do futebol santareno na época do amadorismo. Era o consagrado artilheiro do São Francisco e nunca se interessou em jogar em Belém. Por longo tempo ele integrou a comissão técnica das divisões de base tunante e alcançou sucesso como treinador dirigindo o Bragantino em 2002. Mas não quis prosseguir na carreira de técnico.

sábado, 4 de maio de 2019

Premonição consumada


Quase 20 anos depois, esta matéria da revista Placar preconizava a morte do rádio na faixa de Amplitude Modulada (AM). E não só isso: as mudanças nas  transmissões do futebol, hoje conectas à internet.


Vale a pena ler de novo.


Os rebarbados (4)



Riberto Bacuri não aceitava ganhar menos dos que fossem considerados celebridades do time do Paissandu. Ele também se achava assim. E  pelo que jogava desde que chegou em 1974 vindo da Portuguesa de Desportos, tinha suas razões. 

Naquele tempo em que o Remo sobressaia na Primeira Divisão nacional, a equipe do Papão em que pese ter bons jogadores, não conseguia traduzir em campo o mesmo desempenho do Leão. E muito menos no campeonato paraense. Naquela década (70) os remistas ganharam dois Tri,sendo um deles invicto (77/78/79) e só perdeu o de 76 porque o presidente Manoel Ribeiro não deixou o time disputar as partidas finais contra o maior rival. Logo depois na primeira partida pela   competição nacional, o Remo venceu por 5 a 2.

Dono de um estilo cheio de firulas, Bacuri parecia jogar “rebolando” em campo. Era um tanto individualista mas produzia grandes jogadas  para a equipe no gramado . Principalmente quando jogou ao lado de Willy, um excelente volante apoiador que veio do futebol carioca.
Quando Aureliano Beltrão  chegou para comandar  o time em 1978  as coisas andavam meio  bagunçadas na Curuzu e ai os ares   mudaram para o meio  campista. Beltrão que já passara pela Tuna,  além de falar pelos cotovelos era um treinador disciplinador. Nada de fricotes estelares com ele. Botou Bacuri no banco enquanto ele fincava o pé em não renovar contrato se não fosse  pela quantia que pedia. E o Paissandu não arredava o pé  do que alegava só   poder pagar ao seu jogador. Bacuri diante do impasse foi cedido ao Ceará e depois ainda jogaria no América potiguar. 

Retornou quando João Avelino, que o trouxera em 74, estava de volta a Curuzu para treinar novamente a equipe bicolor. Mesmo conquistando o primeiro campeonato do novo decênio, Bacuri encerrou a carreira prematuramente antes dos 30 anos.
Encantou-se por uma bragantina, casou e foi morar na Pérola do Caeté desde aquele tempo remoto onde por lá  se estabilizou financeiramente com uma panificadora.
Foi um jogador que pelo longo tempo em que jogou pelo Papão, até hoje é relembrado por seu futebol clássico.



Comercial só ensaiou ser uma empresa


Em fins dos anos 1970 (1977) surgia um clube que prometia ser o quarto grande da capital. Era o Comercial sustentado financeiramente por duas grandes empresas: Xerfan (tecidos) e Dom Vital (transportadora de cargas).

Com sede própria na avenida Almirante Barroso, dispunha até de uma agencia de propaganda que cuidava da divulgação das atividades do clube, especialmente o futebol. Recheado de jogadores em final de carreira ou sub-utilizados por Remo, Tuna  e Paissandu, formou um timaço que dava trabalho quando enfrentava os chamados três grandes metropolitanos. Com uma folha de pagamento superior à da Tuna, seus jogadores além do bom salário pago religiosamente em dia, ainda recebiam vales quinzenais e bichos quando a partida que  vencessem justificasse a gratificação extra.

Ao término do campeonato estadual, os dirigentes, porém, resolveram desativar o time. Mostravam-se insatisfeitos pelo que achavam injustiça de arbitragem  nos jogos contra os dois maiores tivais do estado – Remo e Paissandu – e por isso sentiram-se desmotivados para participar do Torneio de Incentivo que era uma competição que a Federação de Futebol promovia para que os clubes menores não ficassem inativos por ocasião da disputa do Campeonato Brasileiro da 1º Divisão.

Os dirigentes do Comercial, entretanto, recusaram-se em participar do torneio, preferindo desmanchar seu bom elenco  de profissionais. E com isso, no ano seguinte, encerravam em definitivo a atividade relâmpago de um clube que prometia ser a quarta força de Belém, principalmente quando o Sport Clube Belém, por vários anos mantido pelos militares da Base Aérea foi definhando depois que seu patrono maior, o major Rodopiano Barbalho,  que o fundou em 1970 e em seguida assumiu a presidência da FPF, retornou a sua terra natal, o Rio de Janeiro. O Brasinha ficou órfão da polpuda ajuda financeira que recebia mensalmente de contribuições do contingente fardado da Aeronáutica. Chegou a contratar grandes jogadores de fora como Dico, Roberto e Luizinho, vindos do futebol de Brasília e que depois jogariam no Remo (Dico e Roberto ) e na Tuna (Luizinho).

O Sport ainda se manteve nas disputas do campeonato paraense por vários anos,  mas sem ser mais  aquele timaço da época de Rodopiano Barbalho.  Foi considerado por alguns anos como o quarto time  grande do nosso futebol.

O Comercial só disputou um campeonato, mas era um bom time.

Turma da Pça. Brasil

Foi a maior turma de bairros dos anos 60. Reuníamos mais de 50 integrantes que residiam nas redondezas da tradicional Praça Brasil. Em algu...