sábado, 24 de agosto de 2019

O RE-PA é um clássico ético


Pelas circunstâncias que permeiam a partida quanto aos possíveis resultados dos outros jogos da mesma competição, amanhã (25), o RE-PA deste domingo ganhou contornos quase inusitados, pela exasperada rivalidade centenária de dois clubes que, no Norte, foram os únicos a integrar o seleto naipe de siglas nacionais que traduzem a rixa entre os maiores rivais de seus estados. Além deles, só: Fla-Flu, Gre-Nal, Ba-Vi e Atle-Tiba. Uma honra, sem dúvida.

Como não poderia deixar de ser, após esmiuçadas as possibilidades matemáticas para a classificação dos dois times à fase do mata-mata da série “C” deste ano, os zum,zuns afloraram pela mídia e sobretudo com ampla repercussão nas plataformas sociais da internet. O empate entre os dois tradicionais rivais seria uma hipótese viável para acontecer no jogo e amanhã, bastando para isso que o gaúcho Juventude, primeiro colocado na chave da dupla paraense, vença seu jogo contra o Ypiranga, adversário do mesmo estado. O Juve desfruta ainda da vantagem de jogar em seu estádio em Caxias do Sul. Até ai, quase tudo nos parâmetros do que permite a racionalidade dessa conjectura. Mas sem esquecer a frase simplória, porém “letal”, atribuída a Garrincha antes de um jogo contra a Rússia na Copa do Mundo de 1962: “Já combinaram com os russos?”. Nada mais lógico em se tratando do futebol.

Lembro que no campeonato paraense de 1967, os dois times decidiram a competição em cinco partidas seguidas. A torcida chegou a jogar jaca (que simbolizava um jogo armado) para dentro do campo, demonstrando sua indignação com tantos resultados infrutíferos (empates) sem que o campeonato fosse de fato e de direito encerrado. No último jogo, o Paissandu venceu por 2 a 0 e ganhou o título.


Depois de tanto tempo, quando o Quarenta já houvera encerrado sua profícua e longa carreira (18 anos) no Papão, certo dia conversei com ele sobre aquele campeonato. O ex-jogador do Papão e meu amigo de longa data, estabeleceu um conceito para dar sua resposta. Indagou-me o que eu achava sobre algum dirigente formular uma proposta de “amolecimento” de um jogo em favor de algum adversário e no futuro cobrar do time ou de algum jogador a insinuação de “corpo mole” em uma partida que seu time fosse derrotado. E garantiu-me que no prolongado tempo em que jogou, nunca fora procurado para a mais leve insinuação ou indireta sugestão a esse respeito. “Comigo, nunca” – asseverou.

Pelo longo tempo de vida e quase equiparado ao que já acompanho o futebol, não sou leviano e nem também ingênuo demais para não achar que as coisas mudaram no mundo, inclusive no futebol, que hoje tornou-se um negócio como outro qualquer. Aliás, um grande negócio em sua amplitude. Mas não devo e nem posso nivelar o caráter das pessoas, no caso, dos dirigentes dos dois clubes, ao que se possa admitir como canalhice em detrimento à ética que norteia as boas ações, inclusive no universo da bola.

O jogo de amanhã, como é natural, contempla três resultados: vitória, derrota ou empate. Que bicho vai dar, só no final do confronto se saberá. Aliás, como de todos os outros que serão realizados no mesmo horário.

Se acontecer a possibilidade de ambos seguirem em frente no torneio, melhor para o futebol paraense. Quem disser o contrário desse senso comum, estará blefando ou exaurindo a rivalidade para um viés patológico.

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