Quando o genial Nelson Rodrigues foi buscar no cão de rua a metáfora mais adequada, embora acutilante, para tentar explicar (e ao mesmo tempo procurar mudar) um comportamento de inferioridade dos jogadores brasileiros perante rivais supostamente tidos como de maior técnica em campo, não nivelou essa síndrome de rebaixamento psicológico por baixo. Queria fazer a comparação psicológica do que denominou de “complexo de vira-latas” dos nossos jogadores perante times sul-americanos, especialmente argentinos e uruguaios, mas sobretudo os europeus.
De certo tempo atrás para os dias de hoje, nossos dois maiores clubes, entretanto resolveram inverter o conceito rodriguiano. Deixam-se a bater jogando em Belém por times de suposto nível técnico inferior. Tanto o Remo quanto o Paissandu são tomados por uma síndrome nervosa desde que entram em campo. Como disse certa vez o treinador João Francisco, têm medo de suas próprias torcidas. Os jogadores ficam apavorados em errar passes, perder gols, atrasar a bola para um companheiro de defesa, cobrar mal faltas e escanteios e às vezes até tiros-de-meta...
Na semana que passou, os dois maiorais deram vexame no Mangueirão. O Paissandu ao empatar com o Boa Esporte e o Remo perdendo para o Tombense por 2 a 0. Isso tudo diante de uma plateia de mais de 20 mil torcedores.
O estádio não faz a diferença. Se o Papão joga na Curuzu, nada muda; e o Remo no Baenão é a mesma coisa. Quem sabe se o estádio da Tuna tivesse condições não resolveria esse terrível problema de bloqueio mental?
E já foi pior com os anônimos Salgueiro e Vila Aurora, só para citar os anódinos.
Desperdiçam pontos em competições nacionais jogando em Belém, o que lhes acarreta, assim como às suas imensas galeras, o nervosismo ao se aproximar o término dos torneios. A classificação de ambos passa a ser um tormento de cálculos, projeções em cima dos adversários para que percam pontos que lhes beneficiem, sem contar as promessas e mandingas encomendadas para que não escorreguem de divisão.
Mesmo com um campeonato nivelado tecnicamente bem abaixo dos anos anteriores, a série “C” atual não permite à dupla RE-PA um pouco de tranquilidade que assegure a passagem à nova etapa da competição. O mata-mata, que já dá o passaporte à Segunda Divisão em 2020 aos quatro times classificados, torna-se uma angústia quase infinita até a última rodada para saber quem vai conseguir essa façanha.
Meu caro Expedito, respeitando sua experiência na crônica esportiva, tenho uma opinião um pouco diferente: acho que hoje, com o profissionalismo exacerbado do futebol brasileiro, jogar "em casa" não tem nenhuma vantagem. Os jogadores de hoje - diferentes dos "prata da casa", que vestiam a camisa com dedicação exclusiva-, não estão "nem aí" se ganham ou perdem. A rotatividade, mais especificamente no futebol paraense, faz com que os "atletas", às vezes, não saibam nem por qual time estão jogando. O que lhes interessa é um bom contrato, pagamento em dia, técnico compreensivo e diretor maleável. Paixão pelo clube não existe. É a realidade dos dias de hoje. Então, não é nenhuma vergonha perder "em casa". Considere-se que "em casa" é uma colocação só para os torcedores e parte da imprensa local que ainda acredita nisso. Se ganhar:ótimo (prestígio e garantia de emprego). Se perder: tanto faz. Há muitos times no Brasil. É só seguir adiante e cantar noutra freguesia.
ResponderExcluirEntão, concluindo, o jogo seja onde for, é, inicialmente, pra ser ganho. Se não der, paciência, "vamos trabalhar pro próximo".
Acabou o futebol paixão, ficou apenas o futebol cifrão. E pronto.