segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

O Sobrenatural de Almeida



O misticismo integra também a essência do futebol. E entranha-se nele como a desdenhar da lógica que procura-se encontrar nesse esporte tão complexo.

Não foi à toa que a genialidade de Nelson Rodrigues foi buscar no fictício personagem sobrenatural de almeida as razões que a própria razão menospreza para justificar certos fatos acontecidos na universo do futebol.

O Cruzeiro é considerado um dos clubes mais bem estruturados no país. Isso desde os anos 1960. Excede em títulos estaduais,  nacionais e duas Libertadores. Na década de 1990 deu um salto gigantesco modernizando a Toca da Raposa em uma parceria com uma empresa norte americana que causou polêmica entre seus associados . Mas que sacudiu o clube do Barro Preto de Belo Horizonte.

Com raízes italianas o que comprova sua primeira denominação como Palestra, foi a partir da chegada de Tostão –sua maior estrela em todos os tempos – Raul, Piazza, Natal, Toninho Cerezo, Dirceu Lopes, Palhinha e Hilton Oliveira,  entre muitos de seus grandes  craques que o Cruzeiro passa a dividir com o Atlético Mineiro a preferência da torcida das Alterosas.

Conta-se que quando o maior clássico do futebol de Minas Gerais era entre Atlético e América, nas decisões estaduais que aconteciam   entre o Galo Carijó e a Raposa, a diminuta galera do Cruzeiro em comparação  com a do adversário,  chegava cedo ao antigo estádio Independência,  bem antes do jogo começar. E à medida que a torcida do Galo passava a entrar, comprimia os cruzeirenses até entoca-los em um canto do estádio. Era uma diferença brutal. O que hoje é rigorosamente nivelado, embora a de um ou de outro ache que a sua é um pouco  maiorzinha...

Acompanhei a agonia do Cruzeiro nessas últimas partidas em que desesperadamente procurava fugir ao rebaixamento. Para um clube do seu porte, com o  elenco talvez mais caro do futebol brasileiro,   quase uma humilhação. Suas grandes e caríssimas estrelas –entre eles, Fred, Thiago Neves, Edilson, Fábio, Henrique e Robinho de salários fabulosos -  talvez não tenham se empenhado tanto em alguns jogos importantes, como pressão pelos salários ( “merrecas”...) atrasados em mais de dois meses. E haja a corda apertar no pescoço à medida que as rodadas avançavam para as finais.

No jogo com o CSA (o inicio da derrocada fatal),  depois com o Grêmio e ontem contra o Palmeiras, a má fase do Cruzeiro foi definitivamente selada. O rebaixamento à serie B do próximo ano não teve como ser driblado . Com todos os seus muito  títulos mineiros, outros tantos em nível nacional e inclusas as duas Copas Libertadores, o time foi ao fundo do poço. Como já se previra, com a revolta natural de sua galera,  sem justificar, todavia,   a fúria que se apossou dos mais exaltados no Mineirão.

Houve, sem dúvidas, os desmandos administrativos que devem ter contribuído também  para o fracasso do time em campo. Mas em situações análogas e por vezes   mais graves, outros times já conseguiram até ser campeões em disputas de títulos. 

É o futebol com seus caprichos, mistérios e outros fatores transcendentais,  que se traduzem na própria vida.

A foto que ilustra o texto é de uma das revistas que durante muitos anos recebia mensalmente por deferência do amigão e jornalista Marcos Guiotti,  a quem tive a felicidade de conhecer na Copa do Mundo de 1998 na França. Por longo período ele militou e até chefiou as equipes esportivas  das Rádios Globo-CBN de BH.

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