Pelas circunstâncias que permeiam a
partida quanto aos possíveis resultados dos outros jogos da mesma competição, amanhã
(25), o RE-PA deste domingo ganhou contornos quase inusitados, pela exasperada
rivalidade centenária de dois clubes que, no Norte, foram os únicos a integrar o
seleto naipe de siglas nacionais que traduzem a rixa entre os maiores rivais de
seus estados. Além deles, só: Fla-Flu, Gre-Nal, Ba-Vi e Atle-Tiba. Uma honra,
sem dúvida.
Como não poderia deixar de ser, após esmiuçadas
as possibilidades matemáticas para a classificação dos dois times à fase do
mata-mata da série “C” deste ano, os zum,zuns afloraram pela mídia e sobretudo
com ampla repercussão nas plataformas sociais da internet. O empate entre os
dois tradicionais rivais seria uma hipótese viável para acontecer no jogo e
amanhã, bastando para isso que o gaúcho Juventude, primeiro colocado na chave
da dupla paraense, vença seu jogo contra o Ypiranga, adversário do mesmo
estado. O Juve desfruta ainda da vantagem de jogar em seu estádio em Caxias do
Sul. Até ai, quase tudo nos parâmetros do que permite a racionalidade dessa conjectura.
Mas sem esquecer a frase simplória, porém “letal”, atribuída a Garrincha antes
de um jogo contra a Rússia na Copa do Mundo de 1962: “Já combinaram com os russos?”.
Nada mais lógico em se tratando do futebol.
Lembro que no campeonato paraense de
1967, os dois times decidiram a competição em cinco partidas seguidas. A
torcida chegou a jogar jaca (que simbolizava um jogo armado) para dentro do
campo, demonstrando sua indignação com tantos resultados infrutíferos (empates)
sem que o campeonato fosse de fato e de direito encerrado. No último jogo, o
Paissandu venceu por 2 a 0 e ganhou o título.
Depois de tanto tempo, quando o Quarenta
já houvera encerrado sua profícua e longa carreira (18 anos) no Papão, certo
dia conversei com ele sobre aquele campeonato. O ex-jogador do Papão e meu
amigo de longa data, estabeleceu um conceito para dar sua resposta. Indagou-me
o que eu achava sobre algum dirigente formular uma proposta de “amolecimento”
de um jogo em favor de algum adversário e no futuro cobrar do time ou de algum
jogador a insinuação de “corpo mole” em uma partida que seu time fosse
derrotado. E garantiu-me que no prolongado tempo em que jogou, nunca fora
procurado para a mais leve insinuação ou indireta sugestão a esse respeito. “Comigo,
nunca” – asseverou.
Pelo longo tempo de vida e quase
equiparado ao que já acompanho o futebol, não sou leviano e nem também ingênuo demais
para não achar que as coisas mudaram no mundo, inclusive no futebol, que hoje
tornou-se um negócio como outro qualquer. Aliás, um grande negócio em sua
amplitude. Mas não devo e nem posso nivelar o caráter das pessoas, no caso, dos
dirigentes dos dois clubes, ao que se possa admitir como canalhice em detrimento
à ética que norteia as boas ações, inclusive no universo da bola.
O jogo de amanhã, como é natural, contempla
três resultados: vitória, derrota ou empate. Que bicho vai dar, só no final do confronto
se saberá. Aliás, como de todos os outros que serão realizados no mesmo
horário.
Se acontecer a possibilidade de ambos
seguirem em frente no torneio, melhor para o futebol paraense. Quem disser o
contrário desse senso comum, estará blefando ou exaurindo a rivalidade para um
viés patológico.