O maior ídolo do futebol do Remo de todos
os tempos, também foi, ainda que como paradoxo, o seu jogador mais
problemático.
Alcino era um transgressor nato.
Desde quando chegou a Belém, por volta de 1970, o Negão já trazia na bagagem uma
ordem de prisão por assalto. Ele se metera no crime quanto ainda era muito
jovem. Conseguiu deixar o Madureira onde já era o titular da camisa 9 e
aproveitou o interesse do Leão para se mandar do Rio. O Remo sabia da bronca
toda mas nesse tempo tinha padrinho forte em Brasília. Ninguém menos que Jarbas
Passarinho. E foi postergando a decisão judicial principalmente quando o Negão
tinha que ir jogar no Rio. Havia sempre a ameaça da prisão, mas a certeza maior
era de que nada aconteceria. Aliás, como nunca aconteceu. Mesmo quando o
jogador saiu de Belém para jogar no Grêmio e ainda passaria por mais de uma
dezena de clubes.
Em Belém a vida de Alcino foi sempre
tumultuada com acusações de gravidez das inúmeras marias-chuteiras com as quais
se meteu. E que reclamavam pensões alimentícias para seus filhos. Naquele tempo
remoto, o DNA ainda não estava na moda. E através de advogados contratados pelo
Remo ele se safava ou engrupia algumas
com uns trocados mensais. E seguia levando sua vida de garanhão sempre ativo.
Farrista inveterado, chegava no
Baenão às vezes já de manhãzinha. Dormia como se fosse um perdido, mas na hora
do jogo estava lá no campo. Quase sempre marcando gols. Por isso ganhava “indulto”
permanente, tanto da cartolagem como também da torcida azulina. Era um ídolo e
em sendo assim, gozava da “absolvição” de todos os seus “pecados”. Veniais ou
graves.
Um desses “pecados” foi ter entrado peladão em um caminhão e passado em
frente a um convento de freiras em Mosqueiro
(onde o time estava concentrado), flanando sem o menor pudor. Foi punido
pelo clube, mas a torcida gritava por seu nome no Baenão ao saber que ele
estava de “castigo” no banco de reservas. O treinador Paulinho de Almeida rende-se
ao clamor da massa e bota o Negão pra substituir alguém. Mal se benze, entra em
campo e marca um gol. Explode o coração do Fenômeno!
Com o técnico Paulo Amaral o negócio
foi diferente. Machão, o treinador teria certa vez desafiado Alcino para sair
no braço. Quem perdesse, já era no clube. Alcino preferiu não medir forças com
o musculoso e truculento treinador. Confiou no taco de seu carisma com a
galera. Fizeram as pazes e passaram a conviver bem.
Quando estava no Grêmio, indispôs-se
com o saudoso Telê Santana, que era rígido com a disciplina. Teria até ameaçado
brigar com o técnico. Ficou em desvantagem e seria uma das razões de sua saída
do time gaúcho.
O pior de tudo aconteceria quando foi
jogar pelo Rio Negro, em Manaus. Certo dia, de bobeira antes de um treino,
pegou o ônibus do clube e saiu zanzando pela cidade. Terminou por atropelar um
morador de rua que viria a morrer. Saiu fugido de Manaus.
Ao encerrar a carreira, sem lenço e
sem documento, passa a viver em Belém à base do “deixa a vida me levar”. O
vídeo que posto reproduzido de um programa da ESPN é uma homenagem a ele que um ano depois (2006) viria a morrer
de câncer. Um cara que viveu como achou melhor viver. . Na glória ou na ruina. Era o seu destino.
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