Um fato curioso, senão inusitado, chama a atenção no futebol paraense. Os três maiores clubes da capital, Remo, Paissandu e Tuna, têm seus estádios localizados na mesa rua.
Os dois maiores rivais, um quase em frente ao outro. A distancia que separa a rua Antonio Baena, da Curuzu, é de apenas um quarteirão. O estádio do Papão considerado o “vovô” da cidade, pertencia à empresa (naquele tempo firma) Ferreira & Comandita e situava-se onde é hoje o conjunto residencial do IAPI em São Bras. Foi lá que se realizou o primeiro Re-Pa no remoto ano de 1914. Depois a firma transferiu o estádio para a travessa da Curuzu e em 1918 foi comprado pelo Papão.
A Curuzu como é chamado popularmente o estádio Leônidas Sodré de Castro, passou por várias transformações estruturais até chegar ao moderno estádio que hoje tem capacidade para 15 mil torcedores e dotado até de hotel para os seus jogadores em suas próprias dependências internas. É o mais bem estruturado dos três estádios clubísticos. Nele o Papão já conseguiu grandes feitos como por exemplo a vitória por 3 a 0 sobre o Penarol, e uma das duas conquistas da Segunda Divisão nacional em 2001 contra o Avaí. Evidente que já teve também seus fracassos – mais recentes - como o Salgueiraço quando perdeu o título da Terceira Divisão para o Salgueiro em 2010. A sonora goleada em 1966 para o Náutico do Recife por 6 a 0 pela Taça do Brasil daquele ano. Dois títulos estaduais em 1968 para o Remo e 1970 pra Tuna. Coisas normais no futebol. Mas a Curuzu velha de guerra é o “alçapão” que apavora os adversários do Paissandu quando a Fiel torcida bicolor resolve apoiar em peso seu time contra um adversário. O caldeirão explode de entusiasmo.
O Remo só teve seu estádio próprio a partir do ano de 1917 quando foi construído o conhecido estádio de Antonio Baena. Ainda que a fachada do estádio seja pela avenida Almirante Barroso, tal como a Curuzu, prevaleceu a rua transversal para a denominação do estádio azulino. Aliás, naquele tempo longínquo ninguém chamava estádio de futebol e sim “campo”, simplesmente.
Só em 1935 é que o hoje chamado Baenão vai passar por melhorias estruturais e inclusive dotado de iluminação para os jogos noturnos. No decorrer do tempo, outras reformas foram sendo introduzidas no estádio, mas a grande mudança só acontece mesmo em 1962 quando é reaberto depois de quase seis anos desativado. Daí em diante é quando passa a chamar-se Evandro Almeida em homenagem a um ex-craque de futebol e que depois se tornaria dirigente quando é implantada a fase profissional em nosso futebol. O estádio ressurge imponente, dotado de tuneis (uma novidade em Belém), modernas arquibancadas todas em alvenaria, cabines de imprensa, rádio e TV, além das dependências isoladas da diretoria e visitantes.
Baenão mesmo, só quando passa por reformas de ampliação das arquibancadas atrás das metas pela avenida Almirante Barroso (entrada) e feira da 25 de Setembro, hoje avenida Rômulo Maiorana. É quando o Remo começa a disputar o Campeonato Nacional da Primeira Divisão em 1972.
Após cinco anos fechado sua reabertura marcada para acontecer em julho próximo é aguardada com muita expectativa por parte de sua grandiosa torcida, denominada de Fenômeno Azul. Mas ainda sem a iluminação restabelecida. Para que isso acontecesse, foi fundamental o apoio de sua apaixonada galera através de promoções que amealharam grana para investir nas obras do velho/novo estádio.
No Baenão já aconteceram conquistas memoráveis e decepções proporcionais aos triunfos, alguns até históricos. Tudo tributado ao próprio futebol que tem no imponderável um de seus místicos ingredientes. O Sobrenatural de Almeida como o definiu abstratamente o genial Nelson Rodrigues.
O último dos três grandes clubes metropolitanos a entrar na disputa do futebol, a Tuna Luso Brasileira que já foi Caixeiral e Comercial anteriormente ao nome definitivo desde 1958, construiu o chamado Campo do Souza que também fica na avenida Almirante Barroso, embora bem distante de Baenão e Curuzu - no sentido São Braz ao Entroncamento – no ano de 1935.
Com ajuda de grandes cruzmaltinos endinheirados daquela época, o “Souza” –hoje Francisco Vasques – custou uma fortuna (cerca de 50 mil reais) em moeda corrente (cruzeiro) e sua iluminação primitiva foi uma das mais eficientes naquele tempo de eletricidade fornecida pela Para Eletric. Toda a instalação das luminárias foi comprada no sul.
Na década de 1950 o estádio cruzmaltino torna-se um dos melhores do Norte/Nordeste. O gramado era um tapete verde. A iluminação com quatro torres situadas nos quatro cantos do campo, era como se fosse “um dia”, tamanha era a potência de suas luminárias.
Quando Remo e Paissandu fecharam seus estádios para reformas estruturais por mais de cinco anos, o “Souza” era o único estádio em ação para disputas de jogos oficiais ou amistosos. Lá se exibiram Benfica, Seleção carioca e Botafogo, entre outros grandes times da época. Lá também foram realizadas as decisões dos campeonatos paraenses de 1956 até 1962. A maioria entre Remo e Paissandu. Só em 1958 Remo X Tuna.
Depois da reabertura do Evandro Almeida, o estádio da Lusa paraense foi sendo –descartado para os grandes jogos. De sua estrutura original somente a construção das arquibancadas que ficam atrás das duas traves, além dos dois túneis localizados na lateral da arquibancada de fundo do estádio. O “Francisco Vasques” ainda dispõe de espaço na lateral direita de quem entra, para a expansão de uma grande arquibancada. Sua iluminação há muitos anos deixou de funcionar.
O estádio perdeu sua importância à medida que o futebol da Tuna foi definhando.
Era tão distante do centro da cidade que no dia de grandes jogos alguns ônibus passavam a fazer a linha FUTEBOL o que indicava que seu trajeto se estenderia até o estádio do Souza. A ida nem sempre correspondia à quantidade de transporte coletivo para o retorno. Especialmente se o jogo fosse noturno.