Quando comecei a frequentar os estádios – naquele tempo só o da Tuna, o chamado “Campo do Souza”, estava em funcionamento – o meia- atacante China da Tuna já estava em fase descendente em sua brilhante carreira. Ele integrava um ataque arrasador formado por Acapu, China, Estanislau, Teixeirinha e Juvenil. Era próximo ao final da década de 1950. Aliás, o melhor decênio da primitiva Tuna Luso Comercial. Ganhou os campeonatos paraenses de 1951/55 e 58. Em sua longa participação no futebol, que contabiliza 10 títulos estaduais, foi a única vez em que conseguiu tal façanha.
China era um jogador técnico por excelência. Mexia-se muito em campo e tinha facilidade para penetrações rápidas na área adversária. Armava o time pela direita e tinha do outro lado o meia- armador Teixeirinha, com estilo parecido ao seu. Só que o modo de jogar de China era com a grife de um autêntico craque. Além de chutar bem com os dois pés, ainda que sobressaisse o esquerdo na construção das jogadas. Sabia também fazer gols.
A polemica que durante alguns anos foi o maior realce na trajetória de China em quase 15 anos de futebol na Tuna, era se teria sido ele o inventor da folha seca e não Didi, o imortal jogador que foi do Fluminense, Botafogo e teve sua consagração na Seleção Brasileira bi campeã mundial em 1958/62. Os dois craques começaram no futebol quase à mesma época: em fins dos anos de 1940. Didi no Madureira e China na Lusa do Souza.
As razões de cada um, segundo alguns historiadores. China teria tido a orientação de Miguel Cecim o mais estudioso dos nossos técnicos de futebol .E que também jogou bola na equipe juvenil do Remo. Cecim teria observado vários fatores que contribuiriam para uma cobrança de falta próxima à grande área de maneira diferenciada. Entre eles o vento, a posição da barreira e até a estatura do goleiro. E China teria absorvido e aperfeiçoado tudo isso. Confesso que cheguei a ver a cobrança de China com maestria em alguns jogos. Parecia tocar na bola com o pé enviesado. Como se fosse de banda. Por cima da barreira, tomava efeito no ar, antes de chegar ao goleiro. Em geral, podendo ser comparada a figura geométrica de uma hipérbole.
Os biógrafos do consagrado Didi dizem que ele mesmo teria inventado bater na bola de modo estiloso, quase “de bandinha”, principalmente ao cobrar faltas de pequena distancia da área do adversário, por um uma mera circunstância: uma contusão quase crônica no tornozelo durante certo tempo e que doía bastante quando ele chutava a bola normalmente. Um pouco de fantasia. Quem sabe. Mas no futebol tudo é possível.
A consagração desse estilo – folha seca – aconteceu por ocasião de um jogo do Brasil contra o Peru pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 1958. Didi cobrou com perfeição e maestria dando a tão esperada vitória que classificaria nossa seleção, pela primeira vez campeã mundial na Suécia.
Seja como for, só em causar polemica sobre o verdadeiro criador da cobrança de falta referenciada, já consagraria o nosso China.
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