sábado, 28 de setembro de 2019

A cara do pai (1)


É provável que no jornalismo esportivo o pai sonhe em deixar seu DNA profissional em um herdeiro como forma de perenizar seu nome. Claro que em outras profissões ocorra o mesmo. E são quase até genéricas essas transferências subjetivas. 

No rádio esportivo isso engloba não só filhos como outros parentes mais próximos. 

Quando pressentiu que sua performance de narrador festejado já estava se exaurindo, especialmente quanto ao fôlego para acompanhar as jogadas rápidas e as novas bossas introduzidas no relato dos jogos a partir dos anos 1960, Edyr Proença, vislumbrou no filho mais velho, Edgar Augusto, o seu sucessor. Sem ainda alcançar a maioridade, Edgar foi aos poucos se entrosando com a equipe esportiva da Rádio Clube, já naquele tempo integrada pelo saudoso Jair Gouveia e por Cláudio Guimarães que se revezavam na narração de jogos que Edyr se abstinha em narrar ainda como o locutor titular da emissora. 

Com estilo parecido com o do pai, ainda que sem o mesmo timbre de voz anasalado e a dicção perfeita que realçavam na narração do ícone de todos os tempos na locução esportiva paraense, Edgar por quase 20 anos narrou o futebol. Fez parte de um extenso naipe de narradores que além de Cláudio e Jair, incluiu também José Simões, Guilherme Jarbas, Zaire Filho, Tavernard Neves, e Guilherme Pinho no longo tempo em que esteve em atividade. Seu slogan era “o locutor mi-nu-ci-o-so”. 

Quando a tradicional PRC-5 mudou de donos em 1983, Edgar afastou-se juntamente com o pai do prefixo do qual a família Proença fora uma das sócias desde sua fundação em 1928. Edyr ainda voltaria para chefiar uma nova equipe em 1986 quando a emissora foi incorporada ao grupo do jornal diário do Pará. O time da Poderosa fora desativado por quase dois anos ao ser comprada pelo grupo empresarial anterior em 1983. 

Ainda que sendo os donos de uma FM –que adotou vários nomes fantasia enquanto pertenceu aos Proença desde os anos 1980 até a negociação este ano com a CBN pertencente a um grupo de Manaus – nunca houve a intenção dos irmãos Edgar, Edyr Augusto e Janjo, em montar uma equipe de esportes.

Milton Neves e seu carisma


Tenho grande admiração pelo apresentador Milton Neves. Que para muitos é tido como um cara cheio de estrelismos, “se acha” e parece ter a presunção de dono da verdade em suas opiniões, quase sempre cheias de ironias e gozação em cima de quem diverge dele. 

A primeira vez em que mantive contato com sua equipe foi quando editei juntamente com o saudoso companheiro Ronaldo Bandeira, o álbum do Centenário do Clube do Remo em 2005. Enviei um exemplar da reduzida coleção especial que me foi ofertada pela Gráfica Alves. A cor da capa (dura) era amarela, alusiva à secular existência do clube. A edição normal tinha sua capa na cor cinza e os dois escudos azul-marinho destacando o primitivo do Grupo do Remo e o que o substituiu até hoje. 

Nesse tempo atuando com um longo programa aos domingos à noite na Record, Milton foi generoso para comigo, elogiando e mostrando a publicação por relativo tempo dentro do programa. 

Anos depois (2013) enviei-lhe o livro “RE-PA- Rivalidade Gloriosa” e fiz menção ao que lhe mandara anteriormente. E na correspondência provoquei-o indagando se ainda lembrava de mim. A resposta veio em forma de um bilhete escrito por ele de próprio punho. Singelo, mas de valor sentimental para mim. Ele já estava na Band e publicou a capa do livro em seu site, um dos mais acessados no país. 

Milton que foi revelado pelo Plantão (informante) da Jovempan é a maior revelação do rádio esportivo que deu certo na TV. Por sua descontração, autenticidade e a extraordinária capacidade mnemônica desenvolvida com extrema desenvoltura a qualquer momento em que seja necessário relembrar de algum fato pretérito. Na maioria das vezes, recôndito no tempo das suas reminiscências. Sem falhar.

Marajoara, futebol dos anos 1980




Durante o longo tempo em que a Rádio Marajoara pertenceu aos Diários e Emissoras Associados, o poderoso grupo de comunicação – jornais, rádios e televisões – de Assis Chateaubriand, desde quando Jayme Bastos passou a transmitir o futebol (primórdios da inauguração da emissora em 1954) várias equipes esportivas se revezaram na emissora.

A estrutura de uma equipe completa, foi montada pelo carioca Luiz Brandão quando veio substituir Jayme Bastos em 1958. Ele era da Tupi do Rio. Abriu concurso (melhor chamar de teste) para novos integrantes de seu time. E ai surgem Carlos Castilho, Jones Tavares, Júlio Linch, Carlos Cavalcante e Tavernard Neves, entre outros.

Quando Brandão retorna ao Rio em 1963, Ivo Amaral passa a ser o novo chefe da equipe e isso vai se estender até 1980 quando a rádio é vendida para o então deputado federal Manoel Ribeiro. Sem tanta demora, Ivo deixa a emissora e vai para a Liberal juntamente com Jones Tavares. Fica só Carlos Castilho que era o comentarista titular. Jayme Bastos e Ronaldo Porto dividem então o comando dos Titulares do Esporte .

Com a inauguração da RBA- canal 13 do falecido empresário Jair Bernardino, Ronaldo Porto deixa a equipe que já perdera também Jayme Bastos. Ai acontece uma transformação estrutural na equipe que passa a ter o comando de Castilho, mas na realidade, o coordenador Guilherme Guerreiro até então apenas plantonista e depois mestre de cerimônia da Clube, passa a implementar modificações na nova equipe da ex-emissora associada .Desfalca tanto a Clube quanto a Liberal, contratando gente de peso, além de promover revelações como Waldo Souza, Carlos Ferreira e mais alguns nomes.

Na foto, Guerreiro aparece (centro) com Guiseppe Thomazzo e Waldo Souza. (1988)

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

O furacão Rony e o outro lado da vida



Campeão em 2014, a arrancada de Rony (detalhe) começou no Remo

O destino às vezes escreve a vida das pessoas como lhe achar mais conveniente. Por vezes, começa pelo avesso do sucesso. Em outras pelo início do fim. Depende do roteiro escolhido pelo acaso e do protagonismo exercido pelo personagem do enredo.

A atuação espetacular do atacante Rony, no jogo de ontem, decisivo da Copa do Brasil e que culminou com o segundo gol do time paranaense, fez o ex-atleta do Remo ser o foco principal da mídia, especialmente das plataformas sociais da internet. Em todas, só dá Rony.

Com uma carreira relâmpago que começa no Remo em 2014, jogando poucas partidas pelo Sub-20, destaca-se, porém, na Copa São Paulo da mesma categoria. Mas ao ver seu time eliminado da competição, o jovem atacante retorna à sua pequena cidade de Magalhães Barata, decerto, desconhecida por muitos, ainda que não tão distante de Belém.

Por lá, desde a infância, a vida foi dura para ele e os quatro irmãos depois da separação do pai da família e a morte da mãe. Foi criado pela avó, que também não demoraria a falecer e fica juntamente com os outros irmãos sob a guarda do avô. Na faina diária de gente humilde, dorme com os irmãos em cima de papeis ou jornais velhos que lhes servem de cama. E quando não tem o que comer, passa fome ou alimenta-se com o que aparecer. E o futuro parece não vislumbrar mudanças. Vira-se como pode: ajudante de mecânico, pedreiro e moto-taxista. Até retornar a Belém, de novo, para vestir a camisa azulina e despontar para a glória em 2014. Foi campeão de profissionais e sem tanta demora, vendido ao Cruzeiro, onde passou pela base,  mas não tendo oportunidade no time de cima, foi cedido ao Náutico. 

No time pernambucano começa a sobressair como artilheiro na série B, não conseguindo, contudo, subir para a Primeira Divisão. Devolvido ao Cruzeiro, é repassado a  um clube do Japão, onde sente bastante a mudança do clima, embora sem se vitimizar. Retorna ao Brasil e passa a viver uma situação indefinida quanto à sua contratação por parte primeiramente do Botafogo e depois do Corinthians, por problemas na sua transferência por parte do clube japonês, que achava ter a preferência em sua renovação contratual. O litígio encerra quando o Athlético Paranaense o contrata no ano passado com o aval da FIFA. 

Sua estrela, então, começa a brilhar ao galgar os degraus da fama de forma frenética. Ganha o campeonato paranaense deste ano, desponta na Libertadores, ganha a Sul Americana e se consagra definitivamente com a conquista ontem à noite da Copa do Brasil. Com as cambalhotas que tornaram-se sua marca registrada ao fazer seus gols, quase sempre em arrancadas fulminantes e o oportunismo do chute forte e bem colocado.

Para onde irá agora o garoto Rony? Dizem que sonha em vestir a camisa canarinho como é natural para qualquer jogador. O Athlético, porém, pensa em ampliar seu caixa, vendendo seu passe a um clube do exterior.

O futebol no Brasil pode se tornar sinônimo de riqueza inesperada para pessoas que nascidas na miséria, tornam-se até milionárias em um contra ponto que só a vida mesma pode explicar. Sem filosofismos de quitanda.

Do Remo ao Athletico PR. uma carreira vertiginosa



segunda-feira, 9 de setembro de 2019

As belas do Bola na Rede


O empoderamento das mulheres aos poucos chega ao rádio e à televisão esportiva paraense.

Criado recentemente, o programa Bola na Rede, da Clube, é apresentado três vezes na semana: às segundas, quartas e sextas, logo após o Cartaz Esportivo, às 19h.

Suas apresentadoras são Lauane Chalie, Karen Sena, Mariana Malato e Paula Marrocos.

Elas também se revezam na bancada do Bola na Torre, aos domingos à noite no canal 13, o programa que tem o comando de Guilherme Guerreiro.

Com isso, o Bola ganha o olhar feminino sobre o futebol, que hoje tem tanta importância e conteúdo quanto a opinião dos cronistas mais experientes. Isso em todo o país.



Aflições do futebol




Tenho um grande amigo em Recife. João Guerra, que  já foi inclusive presidente do Náutico. É uma pessoa experiente no futebol e sobretudo pragmático. Com ele é pão, paõ;  queijo, queijo. Nada de dourar a pílula.

No dia seguinte ao jogo do Náutico em Belém, conversamos por telefone. Perguntei se era só aquilo o futebol  que o Timbu jogara aqui. Ele foi realista, como de costume. “Quase tudo” -respondeu. E foi mais além pelo fator campo no jogo decisivo. Nos Aflitos, ele achava que as coisas pioravam para seu clube. Pela pressão da torcida caso o time não estivesse bem no jogo. Depois do segundo gol do Paissandu, parte da galera alvirrubra abandonou o estádio. Não acreditava mais em um empate para forçar a decisão da partida e a classificação à Série “B” de 2020 através de penalidades máximas. O Paissandu, assim como seu treinador Hélio dos Anjos, esqueceram que o placar de 2 a 0 costuma ser enganoso para quem está vencendo. E,  principalmente se o jogo é no campo do adversário de um time de massa. A galera se inflama e contagia seus jogadores. Quando Nícolas fez aquele golaço de letra, com o detalhe pouco explorado pela mídia da bola ter subido ao estufar as redes de Jeferson, pouco comum em gols nesse estilo, sendo a tendência  entrar no gol rasteira, ainda havia muito tempo por jogar. Quase a segunda etapa toda. 

E foi aí que o Papão deu moleza ao não ampliar o placar em pelo menos quatro chances claras de gol. Permitiu ao Náutico o  primeiro gol tão procurado por seus atacantes. Ao alcançar através da bela cabeçada de Álvaro aos 20 minutos. Ainda havia tempo de sobra  para sonhar com o empate. Mesmo que nesse longo tempo, o PSC desperdiçasse no mínimo duas oportunidades abertas para ampliar o escore. Próximo ao termino do jogo, já no período dos acréscimos, o Papão estava todo em sua área. Onde também se encontrava quase todo o time do Náutico. Na aflição de espanar uma bola dentro da área, Micael tirou de cabeça, mas a bola teria resvalado no braço de Uchoa, conforme lance meio nebuloso mostrado pela televisão. O árbitro marcou o pênalti que Jean Carlos cobrou e fez o estádio explodir de emoção. Era o presságio de que o Timbu sairia de campo classificado. Um único pênalti  da série de cinco desperdiçado pelo Papão,  foi fatal para a vitória pernambucana por 5 a 3.

Ao final do jogo, vendo as imagens desoladoras  da galera bicolor,  que em  grande número foi até Recife, lembrei  do término daquele jogo trágico em que o Cuiabá goleou o Remo por 5 a 1 pela Copa Verde de 2015.Ha muito sem frequentar estádios, por pressão de meu filho, entretanto,  resolvi assistir ao jogo no telão instalado no Baenão. O final da partida se transformou em um autentico velório. Afinal, o Remo vencera o primeiro jogo em Belém por 4 a 1. Quase que já entrara em campo enfaixado,  pois o jogo era decisivo da competição. O futebol, porém, é,  e sempre será assim. Místico, aleatório, alógico e sobretudo traduzido no conceito figurado  da sabedoria  popular: uma eterna caixinha de surpresas.  

Livro do Quarenta

A longa e gloriosa  trajetória não só no futebol, mas em sua existência longeva de 90 anos benfazejos, estão compilados no livro que o conhe...