sábado, 29 de junho de 2019

Os rebarbados (final) - Alcino, o transgressor


O maior ídolo do futebol do Remo de todos os tempos, também foi, ainda que como paradoxo, o seu jogador mais problemático.

Alcino era um transgressor nato. Desde quando chegou a Belém, por volta de 1970, o Negão já trazia na bagagem uma ordem de prisão por assalto. Ele se metera no crime quanto ainda era muito jovem. Conseguiu deixar o Madureira onde já era o titular da camisa 9 e aproveitou o interesse do Leão para se mandar do Rio. O Remo sabia da bronca toda mas nesse tempo tinha padrinho forte em Brasília. Ninguém menos que Jarbas Passarinho. E foi postergando a decisão judicial principalmente quando o Negão tinha que ir jogar no Rio. Havia sempre a ameaça da prisão, mas a certeza maior era de que nada aconteceria. Aliás, como nunca aconteceu. Mesmo quando o jogador saiu de Belém para jogar no Grêmio e ainda passaria por mais de uma dezena de clubes.

Em Belém a vida de Alcino foi sempre tumultuada com acusações de gravidez das inúmeras marias-chuteiras com as quais se meteu. E que reclamavam pensões alimentícias para seus filhos. Naquele tempo remoto, o DNA ainda não estava na moda. E através de advogados contratados pelo Remo ele se safava ou engrupia  algumas com uns trocados mensais. E seguia levando sua vida de garanhão sempre ativo.

Farrista inveterado, chegava no Baenão às vezes já de manhãzinha. Dormia como se fosse um perdido, mas na hora do jogo estava lá no campo. Quase sempre marcando gols. Por isso ganhava “indulto” permanente, tanto da cartolagem como também da torcida azulina. Era um ídolo e em sendo assim, gozava da “absolvição” de todos os seus “pecados”. Veniais ou graves. 

Um desses “pecados” foi ter entrado peladão em um caminhão e passado em frente a um convento de freiras em Mosqueiro  (onde o time estava concentrado), flanando sem o menor pudor. Foi punido pelo clube, mas a torcida gritava por seu nome no Baenão ao saber que ele estava de “castigo” no banco de reservas. O treinador Paulinho de Almeida rende-se ao clamor da massa e bota o Negão pra substituir alguém. Mal se benze, entra em campo e marca um gol. Explode o coração do Fenômeno!

Com o técnico Paulo Amaral o negócio foi diferente. Machão, o treinador teria certa vez desafiado Alcino para sair no braço. Quem perdesse, já era no clube. Alcino preferiu não medir forças com o musculoso e truculento treinador. Confiou no taco de seu carisma com a galera. Fizeram as pazes e passaram a conviver bem.

Quando estava no Grêmio, indispôs-se com o saudoso Telê Santana, que era rígido com a disciplina. Teria até ameaçado brigar com o técnico. Ficou em desvantagem e seria uma das razões de sua saída do time gaúcho.

O pior de tudo aconteceria quando foi jogar pelo Rio Negro, em Manaus. Certo dia, de bobeira antes de um treino, pegou o ônibus do clube e saiu zanzando pela cidade. Terminou por atropelar um morador de rua que viria a morrer. Saiu fugido de Manaus.

Ao encerrar a carreira, sem lenço e sem documento, passa a viver em Belém à base do “deixa a vida me levar”. O vídeo que posto reproduzido de um programa da ESPN é uma homenagem a ele que um ano depois (2006) viria a morrer de câncer. Um cara que viveu como achou melhor viver.  . Na glória ou na ruina. Era o seu destino.



segunda-feira, 17 de junho de 2019

Metrô-FM abala audiência esportiva

Jorge Luiz (à esquerda), com Laulito Miranda, André Júnior e Felipe Silva


Henrique Amado, a revelação da Metrô que puxa muita audiência para a FM.


Amparada na experiência do narrador bragantino Jorge Luiz que já passou pela Marajoara e Liberal com bom desempenho, e ainda na revelação do garotão Henrique Amado que surgiu como um “furacão” metralhando a narração ao melhor estilo de Jones Tavares em tempos idos, a Rádio Metropolitana-FM sobe muito na audiência, principalmente depois que a Liberal desativou recentemente  sua equipe esportiva. Aliás, há  quem afirme que na hora do jogo, somando-se a audiência da extinta equipe Legal com a da Marajoara, a Metrô ganhasse das duas.

Claro que a emissora de Barcarena que transmite todavia sua programação direto de Belém, não foi a pioneira entre as FMs da capita, a transmitir o futebol. A Rauland por quase uma dezena de vezes já tentou a mesma empreitada . Mas sem se segurar por muito tempo no ar. Só obteve sucesso quando Cláudio Guimarães  e o lembrado Jorge Dias foram seus narradores titulares em dois períodos distintos. Mas na emissora da avenida Nazaré tudo é “pra ontem”, além da estreita margem de tempo  que concede à equipe. Praticamente só  a abertura e o encerramento da jornada. E, quando muito,  um programa diário de 30 minutos. E olhe, olhe...

A Metropolitana arrisca-se a concorrer com a Clube que ainda detém o monopólio quase geral da audiência esportiva, enviando narrador para transmitir jogos fora de Belém. E com uma equipe reduzidíssima de apenas sete integrantes; além de Jorge Luiz e Henrique Amador, André Júnior (comentarista e também narrador) e os repórteres  Laulito Miranda, Felipe Silva e Mário Jorge. O plantonista é Wesley Costa.

A Cultura e a nova  CBN, também na faixa FM,  transmitem alguns jogos mais importantes, mas apenas para marcar presença entre as concorrentes.

Fica uma curiosidade no ar: com essa mesma equipe, a Liberal conseguiria se manter disputando a audiência com as tradicionais AMs, Clube e Marajoara?

Pode ser que sim, mas também que não. Há uma relatividade quase absoluta nessa conjectura.
Seja como for, pelo tempo (seis anos)  em que Jorge Luiz está mantendo a Metrô proativa, já é um feito. Embora deva-se reconhecer que a 94-FM é uma emissora  com estilo de programação autenticamente popular. Isso também  ajuda muito na audiência do futebol.

sábado, 8 de junho de 2019

Sérgio Noronha abre o jogo (primeira parte)

Com mais de 50 anos no jornalismo, o que inclui o inicio da atividade na Revisão do então jornal  “associado” A Província do Pará, em 1967, o experiente Sérgio Noronha já passou por outras redações, sempre como editor de Esportes, inclusive no extinto A Província quando deixou a Revisão, foi ser  repórter esportivo e depois editor. No finado O Estado do Pará, em O Liberal e no Diário do Pará, desde sua fundação em 1982, Noronha mostrou sua competência na área esportiva dos impressos, além da sempre lembrada revista GOL, onde foi Editor de Texto. Atualmente escreve uma coluna duas vezes por semana no jornal Amazônia do grupo ORM, com grande repercussão nas redes sociais.

Eleito, em pleito memorável, presidente da Associação dos Cronistas e Locutores Esportivos do Pará (ACLEP) em 1987 durante os dois mandatos que exerceu até 1991, Noronha conseguiu tornar a sede campestre da entidade, em Ananindeua, em um aprazível  local de confraternização aos finais de semana, não só dos cronistas e suas famílias, mas também de um vasto círculo de amigos que ele sabe granjear com sua inegável simpatia. Ele foi o primeiro presidente da ACLEP, originário da mídia impressa.

Nessa entrevista de 2006 na extinta Mais TV, canal 21, ele é “sabatinado” por Giusepe Thomazzo,  o apresentador do programa e também por mim. Foi uma extensa conversa de quem tem realmente história pra contar no jornalismo esportivo paraense.

Em razão da matéria se prolongar por mais de 90 minutos, resolvi editá-la em três vídeos, a começar pelo de hoje, e prolongando-se pelos próximos dias.



O Bar do Biriba




O Bar Universal que ficava na Carlos Gomes, esquina com a Bailique, nunca foi conhecido por seu nome fantasia. Todos são o chamavam de Bar do Biriba. Seu proprietário, o carecudo e bonachão Biriba, era conhecido nas rodas esportivas – era torcedor ferrenho do Paissandu – nos meios jornalísticos, naquele tempo com destaque para os jornais impressos  e o rádio – além da própria boemia. Afinal, seu bar e restaurante era dos mais concorridos, situava-se quase no coração da zona do meretrício, o “quadrilátero da luxúria” formado pelas ruas Primeiro de Março, Padre Prudêncio, Riachuelo e General Gurjão, nesta última,  onde se localizavam as chamadas  “pensões alegres” das damas da noite de maior status, algumas até estrangeiras conhecidas como “as polacas”.

Biriba foi o primeiro charangueiro de Belém, chefiando a torcida organizada do Papão com batuqueiros e músicos de instrumento de sopro. Era também prestigiado dirigente da extinta Escola de Samba Boêmios da Campina e durante o carnaval promovia animadas batalhas-de-confete com o desfile  das escolas exibindo-se no tablado do palanque armado em frente ao “Universal”.

Em duas fotos de épocas distintas, Biriba aparece na primeira, à cabeceira da mesa, que contava com a presença de dois conhecidos cronistas esportivos: Grimoaldo Soares, comentarista da Rádio Clube à direita de gravata, e Moacir Calandrini, o saudoso Mestre Calá, o terceiro à esquerda. A foto é da década de 1950.

Na outra, em 1978, da esquerda para a direita: eu, Antonio José, o lembrado Ronaldo Bandeira, Eloy Lins, Sergio Noronha e o Biriba.

Na noite, Biriba foi dono das boates Tapera, na Alcindo Cacela e Pigale, em São Braz. Sem contar a rápida temporada como croupier do cassino da Condor (no inicio dos anos 60) até acontecer o golpe militar de 64.



Os rebarbados (6)




O zagueiro Marajó surgiu com um futebol fulgurante, saindo direto das divisões  de base para o time profissional do Remo em 1977. Ele tinha ainda a cara de menino. Criado longe da família que residia em Abaetetuba, a fama despontou muito cedo para o jovem zagueiro que não estava preparado para a subida tsunâmica que o tornaria um bad-boy em pouco tempo.

Ainda assim, o Leão conseguiu conviver por cinco anos com seu garotão-problemático  que se embebedava com frequência e por vezes aparecia no Baenão quando não era escalado para jogar, em estado de embriagues visível,  postando-se no alambrado para o lado das cadeiras cativas do estádio azulino. Mas o Remo levava sempre em consideração a pouca idade do craque, seu deslumbramento com o sucesso repentino e perdoava sua vida irregular fora de campo. Marajó quando não era o titular da posição, alternava com  o banco,  mas jogava sempre.

O estrelado súbito aconteceu em uma decisão do Re-Pa no final do ano de 1978. O adversário atacava todo do meio do campo para a grande  área remista. Na sobra de uma bola, ainda em seu campo de defesa, Marajó consegue penetrar no campo contrário e aproximando-se da área, teve a calma suficiente para esperar a saída do goleiro  Reginaldo e encobri-lo de voleio. O gol foi considerado um dos mais bonitos daquele ano pelo Fantástico. Ele era exímio  batedor de bolas paradas.

Com o desgaste acentuando-se  entre o jogador e o clube, o Remo decidiu em 1982 emprestá-lo ao Vasco. Marajó mostrou sua bola de craque em São Januário e tornou-se logo o dono da posição. Mas as traquinagens extra-campo continuavam no Rio. Foi então emprestado ao Santo André e depois à Portuguesa de Desportos. Sempre como titular nos dois  times paulistas.
Retorna à Belém em 1987 contratado pelo Paissandu onde fica até o final da temporada de 1989. Encerra a carreira pelo Pinheirense em 1991.

De volta ao seu aconchego natal (Abaeté) ele redime-se da boemia e torna-se praticante evangélico. Casado, torna-se um pai de família exemplar e amadurece  no futebol tornando-se treinador do Vênus, clube local que disputou por vários anos a Primeira Divisão paraense. Demonstrou sempre quando esteve à frente do time conhecimentos  sobre o futebol e por isso o Vênus era um time difícil de ser vencido em seus domínios,  no estádio Humberto Parente. E até mesmo quando jogava em Belém contra os grandes da capital.


Marajó hoje é um pai de família exemplar.

Livro do Quarenta

A longa e gloriosa  trajetória não só no futebol, mas em sua existência longeva de 90 anos benfazejos, estão compilados no livro que o conhe...