sábado, 29 de setembro de 2018

Cracaços do passado


O estilo elegante e sobretudo técnico do quarto zagueiro (à época, centromédio) Casemiro, originou lhe alguns apelidos por parte da torcida e da imprensa (leia-se os jornais impressos). Alguns desses codinomes: “Fio de nylon” (era um tecido de grande elasticidade e com uma característica: nunca amassava. Mesmo sem passar o ferro elétrico, seu estado natural era o mesmo. Por sua magreza, “Fiapo” era outra alcunha bastante usada pelos impressos da época. Originário dos juvenis do Remo, sem tanta demora substituiria Socó, outro esplendido jogador na sua posição. Ainda na década de 1960 atravessou a avenida e foi jogar no maior rival. Antes de se transferir para o futebol amazonense onde além de jogador do rio Negro foi empresário de futebol, Casemiro teve rápida passagem pelo Fluminense. Morreu em Manaus há cerca de cinco anos. 

Contratado na metade dos anos 60 pelo Paissandu junto ao Vasco da Gama, Bené que era do time aspirante da equipe carioca, chegou assustando. Era o autêntico centro-avante artilheiro. Marcava gols em profusão além de ser um rompedor de defesas quer pela velocidade e ainda pelos dribles rápidos com a conclusão de chutes fortes com os dois pés e quase sempre em direção certeira ao gol. 

O chamado “Furacão da Curuzu” ou ainda “Tanque”, realçaria ainda mais seu futebol quando passou a jogar ainda no mesmo ano (1965) com seu ex -companheiro de ataque no Vasco, o meia-direita Rubilota (a grafia correta do nome era Robilota). Infernizavam os zagueiros e ambos sabiam marcar gols. Foram dois atacantes de bom nível técnico. Rubilota trocou a mão na avenida Akmirante Barroso e foi para o Baenão em 1968. Mas retornaria ao Papão em 1972. Bené (o que poucos lembram) jogou pela Tuna em 1969 (Torneio Nordestão) mas ainda na década de 1970 também voltaria à Curuzu. Ele é cunhado do jornalista Ferreira da Costa (casado com uma irmã do ex-presidente da Aclep) e por longos anos reside na capital de São Paulo. 

Rubilota que era advogado, faleceu em Belém em 2011.

O fato é muito antigo. Acontecido nos longínquos anos 1950. No tempo das acirradas disputas entre as seleções estaduais, que aconteceram até 1962. Quando a então Confederação Brasileira de Desportos (CBD) antecessora da CBF, “limou” a competição de seu calendário oficial.

Quando as seleções do Pará e Amazonas se enfrentavam no clássico que a imprensa escrita denominou de Jacaré X Jaraqui (jaraqui é um peixe típico do rio Amazonas) tudo de inusitado em termos de absurdos poderia acontecer.

Em um jogo realizado no antigo Parque Amazonense, estádio oficial antes do surgir p Vivaldão no início da década de 1970, em clima de “guerra” os dois times disputavam o primeiro jogo. Naquele tempo, não havia cabines de rádio separadas da torcida nos estádios nortistas. No antigo campo da Tuna, no Souza, as duas emissoras da capital, Clube e Marajoara, transmitiam os jogos no que se convencionou chamar de Tribuna de Honra. O mesmo local que abrigava a diretoria do clube e a turma da imprensa em geral –rádios e jornais, os dois meios de comunicação predominantes.

O narrador Grimoaldo Soares foi até Manaus transmitir o jogo pela Rádio Clube. A Marajoara ainda não fora inaugurada. Ao gritar o gol de empate do Pará, o narrador foi tendo sua voz sumida do ar. Tudo bem que o fato poderia ser encarado naqueles tempos pré-Embratel como coisa normal. Afinal, as transmissões eram feitas de modo precário. Quase na sorte do som chegar ao seu destino através da Radional que era a empresa que tinha o monopólio das comunicações a cabo: telefonemas, telegramas e as irradiações do futebol de um estado para o outro. A maioria das emissoras preferia se valer das ondas curtas de outras rádios quando lhes eram concedidas. Em nem todas dispunham de mais do que a onda média (AM).

Ocorre que a voz de Grimoaldo custou de mais a retornar ao receptor. E quando o narrador voltou a narrar percebia-se que algo teria acontecido no estádio. Ele ficara menos entusiasmado no decorrer do jogo até o seu final.

Quando a delegação paraense retornou à Belém, veio também a versão verdadeira sobre o fato. Grimoaldo sofrera um murro violento de um torcedor nas costas que interrompeu seu fôlego por alguns instantes. E depois de recobrado, preferiu manter-se silente até o final a partida.

Jacaré e Jaraqui haviam empatado o jogo. Mas antes assim.
  

Apelidos bizarros

Pau-preto (em pé) e Cacetão
Alguns narradores de futebol mais saudosistas –especialmente os da televisão – costumam reclamar da composição dos nomes da grande maioria dos jogadores da atualidade. Quase ninguém é mais chamado apenas pelo primeiro nome. Quando não é o nome complementar, o sobrenome (seja materno ou paterno) é acoplado ao prenome. 

Pior era no passado com apelidos pra lá de extravagantes. Por exemplo: quem não se assustaria com uma narração em que fossem destacadas as trocas de passes entre Pau Preto e Cacetão? Pois ambos jogaram por muito tempo no Paissandu. E um trio de irmãos tunantes formado por Sarará (o único ainda vivo e o mais velho de todos), Macaco e Macaquinho? Ou dois atacantes do Remo que atendiam pelas alcunhas de Marido e Santo Antonio? Os bicolores costumavam “sarrar” com os azulinos ao dizer que o Remo era o único time que tinha “marido” ... 

Na segunda metade dos anos 1960, o Papão também teria um treinador chamado de Santo Cristo. Era carioca e nascido no antigo bairro do mesmo nome. 

Quase infame mesmo era um goleiro que jogava pela seleção de Bragança e depois no Sacramenta com o esdrúxulo apelido de Pit-Fot. Pesquisei sobre tal apelido e o conhecido locutor bragantino, Celso Leite, respondeu-me que colheu junto à família do falecido jogador que seriam palavras pronunciadas por ele quando criancinha para denominar um brinquedo que não acertava dizer o nome. 

Ao chegar à Belém contratado pela Rádio Marajoara, o narrador Luiz Brandão recomendou que fossem evitados numeroso apelidos na escalação dos times. Seu repórter volante o lembrado Abilio Couceiro chama do gramado para informar a escalação da Tuna e começa: Sarará, Macaco Primeiro...e logo é interrompido por Brandão: “Oh, Abilio, veja se consegue saber o nome desse zagueiro. Abilio responde na lata: Braulino Filizolino de Sena. E Brandão mais fulminante na resposta: “Deixa macaco mesmo”. 

Mas a saia justa como a que o saudoso Edyr Proença se meteu ao ler em um programa a escalação de um time suburbano (coisa comum em tempos mais remotos) não teve igual. Patati, Patatá, Curió, Carrão de Sena e Cavalo do Major; Segue escalando o time mas freia de repente. Era um dos atacantes que tinha o sutil apelido de “Cú da Mãe”. Para não perder o embalo ao microfone, recorre à rapidez de raciocínio e prefere abreviar o abjeto apelido com um desenxabido “C” da mãe. Já quase estourando o riso. 

Rádio Clube do Pará - Vozes antigas do esporte




segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Theodorico: “O rádio me humanizou “





Theodorico à esquerda, entre Armando Marques e Manoel Francisco de Oliveira, usa uma jaqueta, cópia do uniforme de um árbitro inglês na metade dos anos 1960. Ele era quase um metrossexual. Empoava-se no rosto, usava cordões e pulseiras espalhafatosas e tanto com ou uniforme da PM  ou à paisana, era um cara cuidadoso com a imagem. 







Um dos personagens mais controvertidos na área policial- militar, o tenente Thodorico Rodrigues por mais de 20 anos foi árbitro de futebol. Sua carreira teve início no extinto campeonato suburbano de tempos idos –década de 1940.


Um impasse na escolha de um juiz para apitar uma partida amistosa interestadual entre o Remo e o Moto de São Luis em 1949 fez com que a então Federação Paraense de Desportos (FPD) a antecessora da FPF (Federação Paraense de Futebol) através de seu Departamento de Arbitragem, recorresse ao considerado melhor árbitro suburbano. E o Theodorico se saiu bem na missão. A partir de então teve início uma longa carreira que se estenderia até 1972.
Apitando jogos tanto em Belém como em outras capitais por ocasião do Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais que há muito tempo foi eliminado do calendário da CBF.

Colaborador por longos anos de jornais e revistas na área de arbitragem, ele terminou por se consagrar mesmo foi no rádio como o comentarista mais famoso de quantos tentaram êxito na função, sem entretanto conseguir. A exceção foi Manoel Nery Filho, o primeiro a se firmar através da Rádio Clube. E que cunhou um bordão até certo ponto original: “No fi-gu-ri-no” – dizia pausadamente quando confirmava um gol. Outros nomes que passaram pelas emissoras de Belém: Arlindo Louchards que teria sido o pioneiro na Marajoara e depois na Guajará. E mais: Fernando de Jesus Andrade e Manoel Francisco de Oliveira (excelentes na função de árbitro) ambos pela Liberal, além de Paulo Cecim pela Marajoara, antes de revelar-se como seguro debatedor e apresentador de TV e um bom comentarista técnico através da Clube.

Foi da autoria de Ivo Amaral a grife com a qual Theodorico seria consagrado no rádio esportivo: O Papa da arbitragem.

Em uma noite depois de sairmos do Diário do Pará, eu, ele e mais uma turma da redação, peregrinamos por alguns bares. Ao pararmos em um deles, na Cremação, fiquei conversando a sós com Theodorico que revelou-me alguns acontecimentos de sua vida. A começar por seu ingresso na Polícia Militar. Era da tropa de cavalaria. Certo dia estava lavando um cavalo, passando a escova no corpo do animal por um dos lados, sem querer se aproximar da cauda. De repente é observado por um coronel que lhe chama às falas. “Você está fazendo o quê com o cavalo?” –indagou em tom de voz ríspido.” Banhando o cavalo, coronel”, respondeu o iniciante cavaleriano. “E por que não fica atrás do animal?” –retrucou o superior hierárquico. “Ele pode me dar uma patada” –responde Theodorico ingenuamente. O coronel passa-lhe um ralho. “Quer dizer que você escolheu a cavalaria e tem medo de cavalo...” –ironizou. A partir daquele dia o soldado Theodorico esqueceu o que era medo.

Truculento e por vezes quase rude, ele protagonizou um acontecimento em meados dos anos 1970 que quase lhe custa a vida. Era o temível diretor da Colônia Penal de Cotijuba, que alguns até chamavam de “A ilha do inferno”. Sua fama de policial violento e desumano, por muitos anos o estigmatizou na PM e perante a opinião pública através da imprensa. Em uma viagem de Belém para a ilha, guarnecia sozinho na condição de policial, uma levada de presos. Em um trecho da viagem - já no fim da   madrugada para o amanhecer -, foi desarmado, feito refém da malta e depois atirado na água. Ele não sabia nadar. Teve uma das mãos colocada na quilha da embarcação e mutilada por uma paulada. Mas conforme comprovam as ironias da vida, um dos detentos o salvou. Arrastou seu corpo até a margem do rio e deixou-lhe jogado por lá. Foi resgatado cerca de três dias depois. Passou por uma longa temporada hospitalar e demonstrando   resistência física extraordinária, recuperou-se quase que totalmente do flagelo.

Na Marajoara e depois na Clube, Theodorico tornou-se um personagem burlesco por suas tiradas e expressões hilárias cunhadas por ocasião das transmissões do futebol. Uma espécie de Mário Vianna (ex-árbitro do futebol carioca e que se tornou conhecido por seus comentários jocosos no rádio) sendo mais criativo e regionalista nas frases de efeito.

Alguns desses bordões:

Saiu da figura A para a figura B (quando o jogador estava impedido).

Catando piolho em cabeça de surucucu (´árbitro estava inventando em alguma marcação).

Ele está vendo visagem (em jogos noturnos, sua crítica aos erros de arbitragem).

Gooollll le-gí-ti-mo (marcação correta de gol).

Está vendo com os olhos do Rei Clareão (quando o árbitro marcava alguma infração que ele considerava inexistente).

Foi nessa noite que ele fez uma revelação, não sei se sob efeito alcoólico ou simplesmente para dar uma satisfação que lhe estivesse sendo cobrada intimamente: “O rádio me humanizou”.
Ficou emocionado, eu senti naquela ocasião, mas evitei aprofundar o assunto. Era um leitor assíduo da antiga revista Seleções, foi outra de suas inconfidências. Escrevia com simplicidade e era objetivo no tema em que focava.

Morreu em 2010. 

Bandeira 10




Ela não foi a pioneira entre as mulheres na arbitragem do futebol brasileiro. A bela Ana Paula de Oliveira, porém, esparramava charme e sensualidade pelos gramados do país. Como todo árbitro de futebol, fez suas lambanças em campo na condição de auxiliar de arbitragem. Ou bandeirinha como eram conhecidos anteriormente os que exerciam a função. Sabia que era uma das estrelas da bola, ainda que não fosse jogadora. Na esteira dela vieram outras. Algumas bonitas ou   simpáticas, outras nem tanto. Mas ela foi a 10 com louvor.
 Certo sábado de um ano já nem tão recente, eu estava almoçando no extinto restaurante Palheta no aeroporto de Val de Cans. A bela bandeirinha se fazia presente em uma mesa acompanhada de um dirigente da nossa Federação de Futebol. Com os olhares masculinos convergindo pra ela. Ao sair do restaurante, Ana Paula que é esbelta e charmosa, sabia que estava sendo o alvo da macharada.
Uma bela mulher que teve a coragem de enfrentar os estádios lotados e encarar as feras do futebol por todo o país em tempos recentes.
Um exemplo valioso e só comparável à sua beleza.
Depois de participar por duas vezes do programa “A fazenda” da Record , além de outras atrações esportivas na televisão, Ana Paula agora está exercendo a função de coordenadora do Departamento de Arbitragem da CBF.
A foto reproduzida  da revista Playboy é do ano de  2007.


Campeonato suburbano



Norte Brasileiro (Cremação), Campina (Campina) e  São Paulo (Marco) foram times destacados no extinto campeonato suburbano.



Era uma das competições de futebol das mais prestigiadas sob a chancela da antiga Federação Paraense de Desportos (FPD) através do Departamento Autônomo de Futebol Suburbano. O campeonato suburbano até antes do surgimento do Peladão promovido a partir de 1970 pelo jornal “associado” A Província do Pará e encampado pela Federação Paraense de Futebol (FPF) tinha sobretudo o prestígio popular. Pelos diversos campinhos do subúrbio belenense – Norte Brasileiro, São Paulo, Liberto, Diário Oficial, Imperial, São Domingos, Uberabinha e Sacramenta entre outros –aos sábados e domingos à tarde o certame se desenrolava com extenso calendário de jogos que se estendia até o final do ano. Eram muitos os clubes participantes da competição. E vários craques galgaram o estrelato nos três grandes times da capital –Remo, Paissandu e Tuna – tendo como origem de seu futebol o campeonato suburbano. O mais emblemático de todos, o centro- avante Neivaldo que ao jogar uma única partida pelo Paissandu contra o Flamengo em 1959 ao final do jogo foi contratado pelo rubro negro carioca. E naquele tempo o Quarenta já era titular absoluto no meio de campo do Papão. Mas foi o Neivaldo quem encheu os olhos da cartolagem do Mengo. Se teve sucesso no transcurso da carreira, só recorrendo ao Google...

Livro do Quarenta

A longa e gloriosa  trajetória não só no futebol, mas em sua existência longeva de 90 anos benfazejos, estão compilados no livro que o conhe...