sábado, 18 de agosto de 2018

O paizão Manoel Chipelo


Quando os jogadores da Tuna estavam sem grana, já sabiam a quem procurar. Em uma espécie de comédia ensaiada, dirigiam-se ao local onde trabalhava um dos mais conhecidos dirigentes do clube cruzmaltino. Era em uma serraria que ficava na Estrada Nova e integrava o poderoso grupo de Antonio Maria Fidalgo & Cia especialista no ramo de material de construção civil. Chipelo era uma espécie de gerente-geral da empresa. 

Logo ao se aproximar, já avistavam o prócer (hoje, cartola) quase aos brados e com gestuais negativos ao balançar tanto a cabeça como os braços: ‘Hoje não tem nada de dinheiro. A Tuna está sem poder adiantar vales para ninguém. Vão embora”. Como que seguindo um roteiro prévio, a turma fingia dar meia volta e cabisbaixos rumavam em sentido contrário ao de Chipelo. Mas logo ouviam um grito: “Venham cá. Mas nada de quantias altas que eu não tenho. Vou ver como poso fazer para arranjar uma “gaitinha” (dinheiro) pra vocês”. E ia atendendo a cada jogador em quantias que se aproximavam ao que eles realmente desejavam. Ninguém saia insatisfeito, pois o coração generoso de um dos mais dedicados dirigentes da Tuna de todos os tempos entendia que seus atletas ao lhes procurar, precisavam da grana naqueles tempos de salários baixos que o futebol paraense costumava pagar. E a Lusa era dos três grandes da capital o time considerado de maior expressão financeira. Seus diretores comandavam o comércio em geral de Belém. Desde panificadoras, grandes lojas de tecidos, transporte coletivo, sem contar o leite in natura distribuído a domicilio nas carrocinhas, que de manhã cedinho rodavam pela cidade e pelos subúrbios. 

A decadência da Transportiva (um de seus primitivos apelidos) começa quando essa grande colônia lusitana vai desaparecendo a partir da década de 1990. Não houve a necessária transição por parte dos seus herdeiros. Pouquíssimos interessados em seguir a carreira comercial dos pais. E a maioria esmagadora torcendo pelo Remo ou Paissandu. 

Começava o declínio de um dos mais tradicionais clubes do futebol paraense. Mas ainda há tempo da Lusa se reerguer. Há quem veja na contratação de Junior Amorim para dirigir o time na Segundinha, uma retaguarda financeira sólida com a presença de novos dirigentes. Imbuídos de vontade e grana para fazer a Tuna a voltar ao seu merecido lugar como o terceiro clube grande da capital. Sua pequena mas aguerrida torcida espera por isso.

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