segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

A cara do pai (6)

Quando o narrador Jorge Luiz trocou a Marajoara-AM pela Metropolitana –FM em 2013, levou consigo um expressivo número de integrantes dos Titulares do Esporte da emissora de Carlos Santos.

Entre eles, o comentarista Nonato Santos (falecido), os repórteres, Chico Chagas, Mário Jorge e Laulito Miranda, além do comentarista ( iniciante) Daniel Barcessat e o narrador revelação Henrique Amado. Incluso ainda nesse time, seu filho Felipe Silva, que estagiava como repórter em sua equipe.

Jorge Luiz que começou na Educadora de Bragança, sua terra natal, veio para Belém no começo dos anos 1980 e logo firmou-se na equipe da Marajoara, quando Jayme Bastos e Ronaldo Porto dividiam a chefia e a narração do futebol.

Com a saída de ambos –Ronaldo para o recém inaugurado canal 13 da RBA (Rede Brasil Amazônia) do saudoso empresário goiano Jair Barnardino e Jayme para cuidar da montagem de sua própria emissora, a Maguary-AM em Ananindeua, Jorge Luiz passa a ser o principal narrador dos Titulares do Esporte. Dividia com Toninho Silva as narrações dos jogos. Depois transfere-se para a Liberal (1988) mas sem tanta demora retorna à Marajoara onde permaneceu por quase 15 anos. Com o som da emissora da Rua Campos decaindo de intensidade e consequente nitidez, e a promessa de um novo transmissor que nunca se concretizava acabou deixando a emissora e apostou no no sucesso da Metrô-FM onde já está há seis anos com boa audiência, principalmente depois que a Liberal extinguiu sua equipe na segunda metade do ano que está se encerrando.

Dois nomes ganharam destaque no novo time do Garotinho na FM de Barcarena: o jovem narrador Henrique Amado e o repórter Felipe Silva que aos poucos foi se firmando como uma repórter de vocabulário seguro e gramaticalmente correto, além, de habilidoso nas perguntas que formula de modo objetivo e com timbre vocal perceptível. . Quando atua nas pontas-de-gol Felipe também sabe dar seu recado, ao fornecer aos ouvintes detalhes complementares ao lance do narrador.

Juntamente com Saulo Zaire, são duas boas revelações na reportagem de campo.

Jorge Luiz começou em Bragança
Felipe Silva é um bom repórter


Intelectual não gosta de futebol?


Paulo Francis cunhou a frase que serviria para demonstrar o estado de ânimo do verdadeiro intelectual. Talvez estereotipado na intelligentsia carioca: “Intelectual não vai à praia. Intelectual, bebe”.

E o futebol ? Também seria rejeitado no cotidiano dos pensadores mais refinados? Parece que nem tanto. Neste livro UM TIME DE PRIMEIRA lançado em 2014 pela Nova Fronteira, um punhado de escritores e jornalistas fala sobre o “soccer”, cada qual ao seu estilo e à época em que escreveu para a coletânea. Alguns são conhecidos pelo seu embrião com o “o esporte das multidões”: Nelson Rodrigues, João do Rio, Rubem Fonseca e Mário Filho.

Vale a pena dar uma olhada e ler os textos originais desse time da fina flor do Lácio.

Edu, o melhor de todos



A voz “aveludada” de Eduardo Tavares, agradável de seu ouvir, ganhava, porém,  um timbre dinâmico nas informações do Plantão Esportivo da Rádio Clube.

Ele foi o substituto de José Maria Nobre Gonçalves, outro monstro sagrado da equipe chefiada  pelo mítico Edyr Proença e cuja voz contrastava com a de Edu, por ser de timbre forte, embora de tom atraente. Ambos, porém, com a mesma dinâmica nas  informações sobre os resultados dos jogos no pais e no exterior. Edu  pegou o inicio da Loteria Esportiva,  quando os plantonistas passam a ter expressiva participação durante as transmissões do futebol. Com os ouvintes acompanhando com a máxima atenção as informações sobre os jogos que integravam a loteca semanal.

Por mais de uma década, depois de surgir na Guajará em 1965,  Edu além de informante foi também o redator e seguro apresentador do programa As primeiras do Esporte, às 13h. Com dicção clara que complementava a bela voz, sabia “segurar” com improviso acurado e verbalmente correto, qualquer interrupção de uma partida. Ficava no ar sozinho sabendo se expressar  ao imaginar situações  que prendessem o ouvinte até o restabelecimento normal do jogo. Em Belém ou na retransmissão por outra emissora de fora do estado. Tudo transcorria normal, apoiado é claro, pelos rádio-escutas do Plantão. Naquele tempo pré-internet formado por Bellar Pereira (já falecido), Elder Bino,  Flávio Moreira e Pedro Hamilton Nery.

Estudante de Medicina, depois que formou-se em meados dos anos 1970, Edu passou a exercer a profissão de médico em vários municípios do interior até se aposentar.

Esta foto é do ano em que faleceu (2010) quando pela última vez esteve na sede campestre da nossa Associação dos Cronistas e Locutores  Esportivos do Pará (ACLEP) levado por mim que o conhecia desde a Praça Brasil onde residíamos nas imediações.

Edu Tavares em sua última visita à sede da ACLEP (2010)

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

O Sobrenatural de Almeida



O misticismo integra também a essência do futebol. E entranha-se nele como a desdenhar da lógica que procura-se encontrar nesse esporte tão complexo.

Não foi à toa que a genialidade de Nelson Rodrigues foi buscar no fictício personagem sobrenatural de almeida as razões que a própria razão menospreza para justificar certos fatos acontecidos na universo do futebol.

O Cruzeiro é considerado um dos clubes mais bem estruturados no país. Isso desde os anos 1960. Excede em títulos estaduais,  nacionais e duas Libertadores. Na década de 1990 deu um salto gigantesco modernizando a Toca da Raposa em uma parceria com uma empresa norte americana que causou polêmica entre seus associados . Mas que sacudiu o clube do Barro Preto de Belo Horizonte.

Com raízes italianas o que comprova sua primeira denominação como Palestra, foi a partir da chegada de Tostão –sua maior estrela em todos os tempos – Raul, Piazza, Natal, Toninho Cerezo, Dirceu Lopes, Palhinha e Hilton Oliveira,  entre muitos de seus grandes  craques que o Cruzeiro passa a dividir com o Atlético Mineiro a preferência da torcida das Alterosas.

Conta-se que quando o maior clássico do futebol de Minas Gerais era entre Atlético e América, nas decisões estaduais que aconteciam   entre o Galo Carijó e a Raposa, a diminuta galera do Cruzeiro em comparação  com a do adversário,  chegava cedo ao antigo estádio Independência,  bem antes do jogo começar. E à medida que a torcida do Galo passava a entrar, comprimia os cruzeirenses até entoca-los em um canto do estádio. Era uma diferença brutal. O que hoje é rigorosamente nivelado, embora a de um ou de outro ache que a sua é um pouco  maiorzinha...

Acompanhei a agonia do Cruzeiro nessas últimas partidas em que desesperadamente procurava fugir ao rebaixamento. Para um clube do seu porte, com o  elenco talvez mais caro do futebol brasileiro,   quase uma humilhação. Suas grandes e caríssimas estrelas –entre eles, Fred, Thiago Neves, Edilson, Fábio, Henrique e Robinho de salários fabulosos -  talvez não tenham se empenhado tanto em alguns jogos importantes, como pressão pelos salários ( “merrecas”...) atrasados em mais de dois meses. E haja a corda apertar no pescoço à medida que as rodadas avançavam para as finais.

No jogo com o CSA (o inicio da derrocada fatal),  depois com o Grêmio e ontem contra o Palmeiras, a má fase do Cruzeiro foi definitivamente selada. O rebaixamento à serie B do próximo ano não teve como ser driblado . Com todos os seus muito  títulos mineiros, outros tantos em nível nacional e inclusas as duas Copas Libertadores, o time foi ao fundo do poço. Como já se previra, com a revolta natural de sua galera,  sem justificar, todavia,   a fúria que se apossou dos mais exaltados no Mineirão.

Houve, sem dúvidas, os desmandos administrativos que devem ter contribuído também  para o fracasso do time em campo. Mas em situações análogas e por vezes   mais graves, outros times já conseguiram até ser campeões em disputas de títulos. 

É o futebol com seus caprichos, mistérios e outros fatores transcendentais,  que se traduzem na própria vida.

A foto que ilustra o texto é de uma das revistas que durante muitos anos recebia mensalmente por deferência do amigão e jornalista Marcos Guiotti,  a quem tive a felicidade de conhecer na Copa do Mundo de 1998 na França. Por longo período ele militou e até chefiou as equipes esportivas  das Rádios Globo-CBN de BH.

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

A cara do pai (5)

Theodorico Rodrigues era ríspido tanto dentro quanto fora de campo. Ele foi árbitro por longo tempo depois de revelado pelo futebol suburbano na metade dos anos 1950, naquela época uma parada indigesta para quem se aventurasse a ser juiz de futebol nos campinhos da periferia. Era preciso ter “aquilo roxo” para encarar craques e pernas de pau, principalmente estes, nos famosos “festivais” que começavam pela manhã e se estendiam até o final da tarde, quando era disputada a chamada prova de honra. O jogo que decidiria a taça da competição eliminatória disputada por cerca de 10 equipes.

Foi a disciplina em campo que caracterizou o estilo do futuro “Papa da Arbitragem” quando deixou o apito e passou a crítico de arbitragem na Rádio Marajoara e depois na Clube. Era tão rigoroso no gramado quanto ao microfone analisando o trabalho de ex-companheiros de ofício. Entre tantos que se aventuraram nessa nova função radiofônica, foi o mais famoso, tendo como concorrente mais forte, Manoel Nery Filho, o pioneiro nessa crítica específica.

Além do conhecimento técnico, contribuiu para o sucesso ao microfone, frases espirituosas cunhadas com ironia e mordacidade, uma sagacidade peculiar ao antigo árbitro Mario Vianna que por muito tempo fez sucesso na Rádio Globo. Alguns desses bordões de Theodorico:
“Esse árbitro árbitro é um paspalhão” (quando o juiz apitava deixando o jogo correr solto sem marcar faltas}; “Tá vendo visagem” ( se o árbitro errasse em marcação   inexistente ), “Passado na casca do alho” (juiz malandro), “saiu da figura A para a figura B (quando o impedimento se caracterizava de fato) “Catando piolho em cabeça de surucucu” (árbitro teria  inventado uma infração) e o goooolll legiiiitiiimo (para confirmar a legalidade do lance que originou o gol).

Ele nunca conseguiu se divorciar do espírito do policial durão que caracterizava seu comportamento. Embora tivesse relativo senso de humor. Cultivava seus “causos” tanto como policial quanto na arbitragem. E narrava-os com certa picardia.

O filho de Theodorico, Mauro Gilberto, desde cedo (14 anos) já mostrava a inclinação herdada do genitor ao apitar jogos em fins da década de 1980 no campo da Colônia Correicional de Menores na ilha de   Cotijuba onde o pai foi diretor por alguns anos. Naturalmente com o incentivo do “velho” e pouco tempo depois, já com 18 anos inscreveu-se e foi aprovado em um concurso de árbitro promovido pela Federação Paraense de Futebol. Rapidamente evoluiu na carreira chegando a apitar alguns Re-Pas, assim como atuar em partidas de competições nacionais fora de Belém. Encerrou a carreira em 1999 e, desde de então, tornou-se funcionário da Assembleia Legislativa do Estado (Alepa).


Mauro Gilberto
Theodorico era um crítico ácido




Os Bendahans



Alberto e Julinho Bendahan eram considerados primos-irmãos. Teriam sido criados juntos. Tinham uma agencia de câmbio na rua Campos Sales. Talvez a única de Belém naquele tempo. Diferentes fisicamente– Alberto era branco e Júlinho bem  moreno. Ambos altos,  embora Julinho fosse magro e Alberto,  forte, já  puxando para o gordo.

Tudo bem entre os dois. Exceto na paixão clubística. Alberto chegou à presidência do Remo e Julinho era “amarrado” no basquete do Paissandu. Além de colaborador financeiro  cativo do futebol, sendo nos anos 1970, diretor do departamento profissional. Chegou à presidência do Papão concluindo através de mandato-tampão  a gestão de Urubatan D´Oliveira. Foi nessa época (1965) que aconteceu a histórica vitória do Paissandu por 3 a 0 sobre o Penarol que era o campeão do Mundo, na Curuzu,  no dia 19 de julho.Na gestão de Alberto (1961/62) o Remo ganhou  quase uma dezena de modalidades amadoras – basquete, vôlei, futebol de salão, atletismo, natação, regata, polo aquático, celotex, entre outras. Mas não conseguiu o mais importante: o futebol profissional. Foi o ano em que o Paissandu contratou ninguém menos que o técnico Gentil Cardoso, já em declínio nos grandes times do país, mas ainda um nome de muito respeito. Quem o contratou foi justamente uma pessoa tida como alheia ao futebol: o empresário Nelson Souza, que diziam disputar com Alberto “conquistas” extra campo. Nelson passou apenas  uma chuva na direção de futebol do Papão. Era dono de uma fábrica de azeite natural, o famoso óleo Dora.

Alberto cumpriu só  a metade de  seu mandato, pois acometida de um doença,  retirou-se de Belém por algum tempo. Após o golpe de 1964, passou a ser olhado com certa desconfiança pelos novos donos do poder os militares. Alegava-se que ele fora um dos colaboradores financeiros da esquerda ´paraense. Era considerado como gente da chamada burguesia esclarecida. Mas nunca sofreu perseguição ostensiva.

Formava com a esposa Myrian, um dos casais mais badalados do soçaite paraense.

Quando o ex-prefeito de Belém, Lopo de Castro, já falecido, arrendou seu jornal O Estado do Pará e a Rádio Guajará em 1978 para os jornalistas Avertano Rocha e Oliveira Bastos, a televisão também  de sua propriedade, o canal 4, foi parar nas mãos de Romulo Maiorana, mas tendo Alberto Bendahan como seu preposto. Ele morreu em 1992.

Júlio foi presidente da Federação Paraense de Basquetebol nos anos 1960.

Faleceu em princípios do novo século.


Julinho foi presidente do PSC e um devoto do basquetebol bicolor

A força da mídia esportiva paraense




Oti Santos liga pra mim: “Preciso que tu vás representar a Aclep no congresso da Abrace em Teresina”. Eu faço que não entendo:” Aonde?” –indago com certa ironia.

O presidente da Aclep naquele distante ano de 1994 justifica que não tem ninguém que possa cumprir a missão. E não queria qeu a nossa entidade estivesse ausente do evento da Associação Brasileira  de Cronistas Esportivos (Abrace). Na chefia, pela segunda vez,  da procuradoria do Tribunal de Contas dos Municípios, por conta e  risco, resolvi encarar a parada. E com um adendo: a passagem ofertada pela Abrace era só de ida...O retorno seria de minha responsabilidade. E mais ainda: sem saber que o avião da Vasp faria pernoite em São Luis, só chegaria em Teresina na tarde do outro dia...No desembarque na capital timbira é que fui informado de que eu era um dos passageiros que teria que descer . De madrugada, tive que ficar hospedado em uma pousada mais em conta. No dia seguinte cheguei no inicio da tarde  à capital piauiense. E logo na recepção do Hotel Luxor, já fui informado de que todos os participantes do congresso mudariam de hotel. Como de  fato aconteceu.

Não era a primeira e nem a segunda vez que estava em Teresina. Mas a organização do evento foi elogiadíssima por quantos participaram do encontro. Fidalguia até em excesso. Debates acalorados, pois esses conclaves esportivos  midiáticos são dominados pela presença maciça de radialistas. Jornalistas da mídia impressa são raros. Considerados até quase como  “corpos estranhos”. Mas enturmando-se com eles, a amizade flui espontaneamente.

No dia do encerramento, uma sexta-feira pela manhã, eu me programei para ir a São Luis desfrutar da praia do Calháu pois chegaria de avião por volta das 13h.A distancia entre as duas capitais é “um pulo”.

Mal termino de fazer uma explanação sobre a importância do XX congresso, eis que sou procurado por uma emissora de televisão. Era a reportagem da TVE local que desejava entrevistar-me sobre a  influencia da mídia esportiva paraense no sucesso do nosso futebol.  Eu quis me recusar pois estava de saída para o aeroporto afim  de embarcar para São Luis. Não me contive, porém  diante da insistência dos confrades da TV e fomos para uma biblioteca do hotel  gravar uma longa entrevista que seria exibida no domingo,  segundo eles me informaram. Um olho no relógio e outro na câmera, quando terminou a reportagem disparei em um taxi para pegar o avião. Ainda deu tempo e pude desfrutar das praias de São Luis até no domingo,  quando retornei à noite para Belém.

Com todos esses ‘transtornos”  fiz grandes amizades que conheci no congresso como o hilariante Garrincha e o Wolteres, este então presidente da entidade congênere do Piauí,  além do falecido Alfredo Nunes, por muito tempo cartola mafrense de muito  prestígio que era vice-presidente da CBF para a região Norte-Nordeste. 

Turma da Pça. Brasil

Foi a maior turma de bairros dos anos 60. Reuníamos mais de 50 integrantes que residiam nas redondezas da tradicional Praça Brasil. Em algu...