terça-feira, 3 de dezembro de 2019

A cara do pai (5)

Theodorico Rodrigues era ríspido tanto dentro quanto fora de campo. Ele foi árbitro por longo tempo depois de revelado pelo futebol suburbano na metade dos anos 1950, naquela época uma parada indigesta para quem se aventurasse a ser juiz de futebol nos campinhos da periferia. Era preciso ter “aquilo roxo” para encarar craques e pernas de pau, principalmente estes, nos famosos “festivais” que começavam pela manhã e se estendiam até o final da tarde, quando era disputada a chamada prova de honra. O jogo que decidiria a taça da competição eliminatória disputada por cerca de 10 equipes.

Foi a disciplina em campo que caracterizou o estilo do futuro “Papa da Arbitragem” quando deixou o apito e passou a crítico de arbitragem na Rádio Marajoara e depois na Clube. Era tão rigoroso no gramado quanto ao microfone analisando o trabalho de ex-companheiros de ofício. Entre tantos que se aventuraram nessa nova função radiofônica, foi o mais famoso, tendo como concorrente mais forte, Manoel Nery Filho, o pioneiro nessa crítica específica.

Além do conhecimento técnico, contribuiu para o sucesso ao microfone, frases espirituosas cunhadas com ironia e mordacidade, uma sagacidade peculiar ao antigo árbitro Mario Vianna que por muito tempo fez sucesso na Rádio Globo. Alguns desses bordões de Theodorico:
“Esse árbitro árbitro é um paspalhão” (quando o juiz apitava deixando o jogo correr solto sem marcar faltas}; “Tá vendo visagem” ( se o árbitro errasse em marcação   inexistente ), “Passado na casca do alho” (juiz malandro), “saiu da figura A para a figura B (quando o impedimento se caracterizava de fato) “Catando piolho em cabeça de surucucu” (árbitro teria  inventado uma infração) e o goooolll legiiiitiiimo (para confirmar a legalidade do lance que originou o gol).

Ele nunca conseguiu se divorciar do espírito do policial durão que caracterizava seu comportamento. Embora tivesse relativo senso de humor. Cultivava seus “causos” tanto como policial quanto na arbitragem. E narrava-os com certa picardia.

O filho de Theodorico, Mauro Gilberto, desde cedo (14 anos) já mostrava a inclinação herdada do genitor ao apitar jogos em fins da década de 1980 no campo da Colônia Correicional de Menores na ilha de   Cotijuba onde o pai foi diretor por alguns anos. Naturalmente com o incentivo do “velho” e pouco tempo depois, já com 18 anos inscreveu-se e foi aprovado em um concurso de árbitro promovido pela Federação Paraense de Futebol. Rapidamente evoluiu na carreira chegando a apitar alguns Re-Pas, assim como atuar em partidas de competições nacionais fora de Belém. Encerrou a carreira em 1999 e, desde de então, tornou-se funcionário da Assembleia Legislativa do Estado (Alepa).


Mauro Gilberto
Theodorico era um crítico ácido




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