O árbitro Antonio Santos que teve longa atuação durante toda
a década de 1960, era um remista tão
indisfarçável, que a irreverencia do saudoso Mestre Calá o
apelidou de Antonio “Baena” Santos em sua coluna “Mestre Calá Manda Brasa”, publicada em O Liberal pré Romulo Maiorana.
Moreno, atarracado, de estatura
mediana, Antonio Santos criou em torno de seu nome extenso rol de anedotas,
todas mostrando a “facciosidade” do
folclórico árbitro. Nos anos 1960, o Remo só conseguiu
ganhar três títulos paraenses: o do
começo da década (1960), 64 e 68. O restante foi tudo abocanhado pelo maior
adversário, o Paissandu. Foram sete campeonatos em uma década, feito que o Remo
só viria a superar nos anos 1990, com
oito títulos, sendo inclusive Penta (1993 a 97) e ainda em 90/91/99.
Em algumas partidas contra os
considerados times pequenos (Júlio César, Combatentes, Liberato de Castro e
Avante , entre outros) o time azulino dava constantes vexames, se não perdendo,
mas amargando em campo para conseguir pelo menos empatar o jogo. A época era
tão adversa para o Leão que o mesmo Mestre Calá, longevo cronista de perceptível
simpatia bicolor, passou a chamar o Baenão de “Estádio dos Aflitos” pelo
constante sofrimento da galera azulina
em seu próprio estádio.
Em um desses jogos em que o time
azulino perdia para um do chamado
“pelotão dos menores”, o árbitro
era Antonio Santos. Com o placar desfavorável em 1 a 0, e o jogo já se exaurindo tanto no
tempo normal quanto nos descontos, um jogador da equipe vencedora passa perto
do árbitro e reclama: "Seu juiz, esse jogo não acaba nunca?”. E o árbitro teria
sido taxativo em sua resposta: "Vocês não deixam o Remo empatar...”. Dito e feito: quando o Leão conseguiu o gol do empate, Antonio Santos encerrou o jogo.
Em outra ocasião, ele estava atuando
como bandeirinha (hoje auxiliar técnico) e num lance confuso com a bola saindo pela linha lateral, Rubilota, pelo Remo, e outro jogador adversário disputam para ver a quem pertencia a cobrança do
arremesso manual. E dirigem-se ao auxiliar do árbitro: “De quem é a bola, seu
bandeira?”. Ele retruca de imediato: ”É nossa Rubilota”. E o atleta remista, meio atônito pela inesperada resposta do bandeira, indaga:” Nossa, de quem?”.
“Tu sabes que é do Remo”, dissipa a dúvida sem cerimônia, o “imparcial” Antonio Santos. Para espanto do outro jogador,
mais do que evidente.
O lendário árbitro sabia,
entretanto, levar as críticas e gozações
numa boa e, por longo tempo, sendo ou não de fato simpatizante azulino, como tudo fazia crer, não teve seu nome vetado para
continuar apitando. Pelo menos os jogos do Remo...