quinta-feira, 18 de abril de 2019

A bola para de rolar na Liberal


Neste domingo (21) deverá acontecer a última narração do futebol na Rádio Liberal. Sua equipe ainda continuará a apresentar dois programas diários – um no horário matutino e outro no final da tarde – mas só até o mês de julho quando a equipe toda –à exceção de Agripino Furtado, por motivo de saúde –será desativada. 

Até agora a direção da emissora não se pronunciou oficialmente sobre os motivos que levaram a esta resolução drástica. Não que seja um fato novo no rádio esportivo brasileiro nesses últimos tempos. No ano passado, por exemplo a Globo/CBN de Belo Horizonte dispensou todo o pessoal que integrava as equipes das suas duas emissoras. Quase 40 profissionais foram demitidos. De igual modo procedeu a CBN do Rio que fundiu sua equipe à da Globo. Claro, reduzindo o número de profissionais. 

Na realidade, a Liberal nos últimos tempos mantinha uma equipe reduzida sem preocupação de concorrer - com a Clube, principalmente, e nem com a Marajoara na faixa AM. E por isso mesmo, encarou também com naturalidade a presença de duas ou até mesmo três FMs – Metropolitana, Rauland e Cultura – na briga pela audiência. Sua equipe apenas marcava presença na transmissão do futebol. Sem a menor preocupação com pesquisas de audiência. O quanto fosse aferido, já era lucro. 

Ao contrário do que muitos afirmam, a Liberal só montou uma equipe esportiva de peso, após 10 anos de presença no ar. Foi em 1970, quando a emissora ainda pertencia ao ex-governador e prefeito de Belém, Moura Carvalho. Quem dirigia a emissora era seu genro, José Carlos Raimundo, desde quando foi inaugurada (outubro de 1960) com o nome de Difusora. Em depoimento breve para meu livro “Rádio- Repórter”, lançado em 2010, JCR confirmou que a equipe esportiva surgiu quando ele era ainda o diretor da Liberal. E o dono da rádio, seu sogro. Logo no ano seguinte é que a rádio foi vendida para Rômulo Maiorana, proprietário do grupo Liberal. E ele ainda sugeriu que eu confirmasse o que me dissera junto a uma pessoa que por muitos anos atuou na programação da Liberal, desde os tempos da Difusora. Tentei confirmar através de um telefonema. Infelizmente minha intenção esbarrou no ânimo agressivo e antipático dessa pessoa que Zé Carlos Raimundo indicara. É tudo o que sei sobre o assunto. 

O auge da Equipe Legal sem dúvida foi enquanto Jayme Bastos foi o seu principal narrador. Em eu pese o som não tão nítido e potente, a Liberal ecoava os bordões de JB, especialmente o “neca, neca” criado para definir o placar em branco, tanto em caso de empate ou de nenhum gol em favor de um dos times. Enfrentava a tradição da Clube e a boa equipe da Marajoara que tinha um som excelente e apoiava-se na dupla Ivo Amaral e Carlos Castilho, na narração e comentários , respectivamente. 

Após a saída de Jayme, altos e baixos marcaram o desempenho de sua equipe. Que nos anos 90 chegou a contar com a presença de três bons narradores: Ivo Amaral, Jorge Luiz e Cláudio Guimarães. Além do bom comentarista José Simões, já falecido. 

A morte de Grimoaldo Soares em 1988, considerado um dos grandes nomes da equipe pioneira de 1970, também contribuiu para essas fases alternadas de alta ou baixa audiência. Ele era considerado um conciliador quando ocorriam turbulências, peculiares entre as estrelas do microfone esportivo. “Gri” era um veterano com longa passagem pela Clube. 

Na primeira vez em que ameaçou parar com o esporte, no final dos anos 1990, Ivo Amaral, arrendou a equipe. Mas após dois anos, desistiu da empreitada. E ele é dono de uma agencia publicitária. O esporte tornou-se oneroso demais com tantas competições nacionais que exigem a presença de transmissão em outras capitais. Passou por novo arrendamento, desta vez mais rápido ainda pois o arrendatário não era pessoa do ramo. E, quase sumindo , contou com a perseverança de Walmir Rodrigues que não deixou a bola parar narrando os jogos sozinho e recrutando colaboradores como o finado Theodorico Rodrigues para comentar as partidas. Sem demora, estava de saída e um grupo foi formado só com a prata da casa – Adonay do Socorro, Jota Serrão, José Trindade, Luiz Lopes e Meireles Fayal. Depois contrataram o narrador Toninho Silva, o comentarista Carlos Ferreira e ainda retornaram Ivo Amaral ( agora como comentarista, nova função em que passou a atuar em sua breve passagem pela Clube) Agripino Furtado e o informante do Plantão, Reinaldo Vieira. A equipe marcou presença inclusive na Copa do Mundo da Alemanha (2006). 

O rádio de hoje em dia sobrevive sufocado pela televisão e pela internet. No esporte, esses dois fatores são mais asfixiantes pela presença de inúmeros canais por assinatura que transmitem futebol e falam sobre outros esportes de manhã, à tarde, à noite e madrugada a dentro. 

É muito ruim para o mercado profissional que uma rádio com estrutura (jornal e TV) como a Liberal feche suas portas para o esporte. Mas por outro lado é inegável que os custos de hoje em dia, provocam quase que um dilema: reduzir gastos ou falir. 



Um comentário:

  1. A mais famosa equipe esportiva do Pará foi a da Rádio Clube (PRC-5). Nos anos 50 e 60. Claro que não havia competição, mas o comando de Edyr Proença fazia toda a sensação, junto com profissionais finados e de alta competência, numa Belém ainda semi-provinciana.
    A revolução modernista promovida pela equipe esportivo montada pela Rádio Liberal no início dos anos 70, sob o comando de Jayme Bastos, foi o segundo e último marco realmente de valor nas transmissões esportivas. Depois disso, a TV, os canais a cabo, e a internet, ocuparam um espaço retirado das rádios, nas capitais principalmente, tornando obrigatório o impulso das emissoras para atingir o interior. Mas as coisas não foram mais as mesmas. Hoje, o esporte via rádio, deixou de ser uma obrigação para o ouvinte. Passou a ser uma simples opção, para obter a informação "em cima do lance". É a vida...

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