sábado, 23 de fevereiro de 2019

Os rebarbados (1)


Rebeldes, incompreendidos, indisciplinados, bipolares, brigões. Alguns desses adjetivos serviriam para explicar o comportamento de jogadores que embora sendo bons de bola ou até mesmo craques, são problemáticos fora das quatro linhas. 

Nem sempre é o alcoolismo ou as drogas nos tempos atuais que contribuem para este desvio de conduta por parte deles. Por s vezes potencializa o mal comportamento, é evidente. Alguns deles são mimados de nascença ou carentes de afeto na infância, em geral paupérrima e atribulada nos lares das periferias Não necessariamente sendo originária desse fator social. 

Dos longos anos em que acompanho o futebol paraense, escolhi apenas seis deles, por considera-los craques ou próximo disso. E principalmente por representarem décadas diferentes. 

O primeiro deles, Carlos Alberto, que era mais conhecido pelo apelido, Urubu, considerado o segundo ídolo, do Paisandu (o primeiro sempre foi o Quarenta) na segunda metade da década de 1950 e até meados dos anos 1960. Urubu era valente, destemido, bravo em qualquer momento do jogo, chutava bem com a canhota e para ele, literalmente, seguindo o pensamento do saudoso e hilário dirigente corintiano, Vicente Matheus, “o jogo só termina quando acaba”. Ou vice-versa. 

Pelo amor acendrado demonstrado em campo e criando a mística em decisões de campeonato contra o Remo de que “matava” o jogo em cima da hora, quando a partida já ia terminar, Carlos Alberto ainda era mais consagrado por zoar a torcida remista. Se marcasse um gol seu rumo imediato em campo era dirigir-se à torcida adversária chacoalhando e às vezes até provocando-a com gestos obscenos. Por isso mesmo era “odiado” pelos azulinos. Ele não estava nem ai. Vivia em constante lua de mel com a galera bicolor. Mas só até quando o treinador uruguaio Juan Alvarez foi contratado para ser o novo técnico do Paissandu. Era o ano de 1965. 

O técnico uruguaio fazia da disciplina rígida, seu maior triunfo ao comando de uma equipe. Chegou já sabendo da fama de indisciplinado do Urubu. E por isso mesmo focou logo nele para mostrar o seu cartão de visita. Ambos de antipatizaram mutuamente, embora Urubu hoje com mais de 80 anos e deficiente visual causado por diabetes, ache que Juan o escolheu para “bode expiatório” com a intenção de amedrontar todo o elenco bicolor. No embate entre ambos a diretoria do Papão resolveu prestigiar seu novo técnico. Carlos Alberto já se aproximava também do final de carreira com quase 10 anos jogando na Curuzú. 

E praticamente foi mesmo o canto do cisne de um dos jogadores mais raçudos do futebol paraense de todos os tempos. E um dos ícones do time alvi azul idolatrado até hoje.

O Urubu, hoje aos 80 anos mesmo deficiente visual não esquece seu Papão.

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