De primeira devo dizer que considerava Di Stéfano o melhor jogador argentino de todos os tempos. Falo com alguma experiência de vida... Pouquíssimo abaixo de Pelé.
Mas o assunto é a morte de Maradona. Quase inesperada pelo muito que já passara anterior à recente cirurgia no cérebro. As sequelas pelo uso de drogas por algum tempo foram agudas. E, pode-se mesmo dizer, a causa de sua morte prematura, mesmo tendo chegado aos 60 anos. Para os padrões etários de hoje, contudo, era possível considera-lo como um jovem senhor.
Em um comentário na revista Placar de alguns anos atrás, um dos colunistas da revista esportiva analisou a dúvida sobre quem teria sido melhor: Pelé ou Maradona. E colocou como termômetro dessa discussão, o ciclo de cada um dos dois craques. Quanto ao futebol praticado, logicamente. E sem tantos rodeios ou atalhos para citar Maradona, justificou a época em que Pelé jogou, quando a visibilidade não era comparável ao tempo do craque argentino. A televisão no Brasil, em termos de futebol das grandes equipes restringia-se ao Rio e São Paulo. Em Belém, por exemplo, só se via os grandes craques nos jornais de curta duração que antecediam a exibição dos filmes nos melhores cinemas da época. Afora isso, só nos esporádicos amistosos quando os times famosos vinham em temporadas por aqui, jogar contra os três maiores clubes paraenses: Remo, Paissandu e Tuna. Ou em partidas das extintas seleções estaduais, realizadas bienalmente.
Se Pelé tivesse tido a mesma exposição no auge de sua carreira 1958/ 1970, o favoritismo quase absoluto seria seu. Não à toa foi merecedor dos maiores galardões mundiais do futebol. Inclusive intitulado Rei, que os franceses lhe tributaram em manchete do jornal Le Figaro.
O legado de Maradona é inegável. Com maior empatia, talvez, por seu engajamento político. E o uso de drogas, uma tisna em sua carreira brilhante.
Pelé, bem mais velho, paga no outono da vida, a cobrança implacável por sua alienação aos destinos do país, principalmente no tempo da ditadura militar. Além de fatos familiares que só deveriam ser um pertencimento pessoal. É o preço por vezes imensurável que a fama exige dos que alcançam o panteão da glória.
"Com certeza um dia vamos bater uma bola juntos lá no céu", disse Pelé, em homenagem à Maradona.