O primitivo projeto do Mangueirão
O Mangueirão parece que já nasceu com o estigma de panema. Um dos últimos estádios a ser inaugurado nas regiões Norte-Nordeste
naqueles tempos da ditadura em que foi cunhado um bordão politico : “onde a
Arena (partido de apoio ao governo) vai mal, um time no Campeonato Nacional” (a Primeira Divisão, evidente).
Aberto ao público (com portões
franqueados aos torcedores) em caráter emergencial no inicio de 1978, para uma
partida do Remo contra o Operário de Mato Grosso em razão de um jogo não
concluído no Baenão, com a queda de parte do alambrado, nosso estádio estadual
já começava à “meia-boca” Isso depois de
uma eternidade (quase oito anos) para sua construção.
Só para dar uma ideia, o
“Albertão” em Teresina, com capacidade para 60 mil torcedores, fora concluído
em apenas um ano, em 1973. Já o Mangueirão teve seu projeto iniciado em 1970. E
tinha a previsão original para uma
lotação de até 100 mil pessoas!
A suntuosidade arquitetônica do primitivo estádio “Alacidão” chamou a atenção do
saudoso cronista João Saldanha, que veio
a Belém pela Rádio Tupi para a cobertura do jogo do Remo X Operário. Olhando a
estrutura do Mangueirão como se fosse um radar móvel, Saldanha disse pra mim,
que estava bem perto dele : “Que arquitetura linda, bonito estádio”, revelou
sua admiração.
Quanto a isso, ninguém tem dúvidas. O
problema do estádio é a sua funcionalidade que foi esquecida. É verdade que há quase 50 anos atrás, Belém era outra capital.
E o local onde foi erguido o Mangueirão era uma área quase inóspita. Praticamente desabitada. O conjunto
residencial popular
Panorama XXI, um dos primeiros construídos
pela Cohab, dava sinais de vida. E só.
As vias de afluência do trânsito sequer foram cogitadas, Bastava entrar e sair
pela avenida Augusto Montenegro e o escoamento do público estaria resolvido.
Com o passar rápido do tempo, esse foi um dos problemas cruciais do estádio.
Suas rampas de entrada e saída tornaram-se insuficientes: só duas destinadas
naturalmente às torcidas de Remo e Paissandu. Em dias de jogos em que afluem multidão de torcedores, tudo fica
complicadíssimo.
O descaso pela manutenção do
auspicioso “templo do futebol paraense”
foi outro grave problema que por muito pouco não terminou em uma tragédia. Pelo balouçar excessivo do estádio
nos momentos da torcida comemorar um gol. Foi preciso que o Fantástico
mostrasse um Re-Pa onde as cabines de imprensa escancaravam o treme-treme de microfones,
papeis, câmeras e tudo mais que estivesse sob o alcance da filmagem. O estádio
ficou dois anos interditado (1991/93) Vergalhões de ferro reforçaram sua
estrutura interna. A reforma serviu também para concluir a “ferradura” do
modelo das arquibancadas, que tinha um grande espaço incompleto. Além de
adaptar o estádio para competições olímpicas, reduzindo-se um pouco o espaço
que o separa do gramado. E a antiga
geral foi extinta.
Agora, o Mangueirão volta a mostrar
suas mazelas. Pelo que se comenta, bem mais graves que as do começo da década
de 1990. Uma temeridade dar tratamento a elas meramente paliativo. Afinal, são vidas que
podem estar sendo arriscadas. O novo governo que assumiu no primeiro dia deste ano, não tem culpa alguma pela incúria administrativa de seus
antecessores. Foram 25 anos de absoluto descaso pelo maior estádio de Belém. Baenão (fechado há quase cinco anos)
e Curuzu não conseguem abrigar público superior a 15 mil torcedores. O plano B
de nosso futebol poderia ser um estádio como chegou a ser iniciado em
Ananindeua, município vizinho a Belém. Na atual circunstancia, seria a segunda
via, principalmente para o Remo, o maior prejudicado com a interdição do
estádio estadual. Por enquanto, não onde atuar como mandante de seus jogos.
E agora, José?
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