Na metade dos anos 1990 até o final da década, eu ia muito a São Paulo. Mais pro problema de saúde após uma cirurgia na garganta. Fazia – e ainda faço, agora em tempo muito mais espaçoso – acompanhamento com um excelente otorrinolaringologista de lá. O competente Dr. Osíris Camponês do Brasil. Sim, esse é o nome surreal do médico. Escolha do pai, me disse ele.
E em minhas muitas, mas breves estadas na capital paulista, recorria ao meu cicerone predileto: o jornalista Leão Azulay, quase que meu aprendiz desde os tempos da lembrada revista GOL. E, algum tempo antes no extinto jornal O Estado do Pará. Ele já era quase que um paulistano.
Um dia Azulay me convidou a conhecer a redação da Folha de São Paulo. O prédio não era nada imponente, salvo engano, no centro da capital. Ao entramos em uma sala, havia tanta gente que fiquei espantado. Azulay sorriu. “Aqui funciona apenas a redação do jornal em online” – enfatizou. Naquela época, os jornais de Belém engatinhavam na informatização de suas redações.
Comparo a Folha com o antigo e recém lançado Jornal do Brasil, cada qual com sua importância histórica e respectiva fase política. Ambos por algum tempo com inclinação editorial mais à esquerda.
O jornalista Otávio Frias Filho, morto ontem aos 61 anos, por tudo o que li sobre ele e especialmente através da percepção que fazia sobre suas fotos, me parecia um bebê que já nasceu de terno e gravata. Precocemente adulto. Sisudo e sempre a demonstrar através da face a eterna preocupação com algo. Ou com a vida toda.
Inteligente e culto, a meu ver, sofria da obstinação perfeccionista que parece corroer os que nunca acham nada inteiramente bem feito. Perseguem a perfeição, mesmo sabendo não poder alcança-la. Tornam-se, porém, obcecados por essa ideia que lhes parece tangível.
Um jornalista que trabalhou na Folha, comentou comigo certa vez em São Paulo sobre o Manual da Redação do jornal: “Se a gente seguir rigidamente o que ele manda, não se consegue escrever quase nada”. E de quantos manuais mantenho até hoje – O Estadão, Editora Abril, Bloch, O Globo e Jornal do Brasil, os principais – sem dúvida o da Folha é muito mais rigorosa no que concerne à técnica redacional. Só para citar um exemplo: lá ensina-se que o “P” da palavra pais só se escreve em caixa alta (maiúscula) quando se trata do Pais de Gales. Fora a única exceção, nem em se tratando do Brasil, admite-se escrever com letra maiúscula. Possivelmente uma visão técnica de Frias Filho.
A capa da extinta revista Imprensa que ilustra meu comentário é do ano de 2007. Nela está inserida uma extensa entrevista com o reformista diretor-de-redação da Folha, que assumiu a direção do jornal a partir de 1984, quando tinha apenas 27 anos.
Otávio Frias Filho, sem dúvida marcou uma época no jornalismo brasileiro.