sábado, 19 de janeiro de 2019

A sina do Mangueirão

O primitivo projeto do Mangueirão


O Mangueirão parece que já nasceu com o estigma de panema. Um dos últimos estádios a ser inaugurado nas regiões Norte-Nordeste naqueles tempos da ditadura em que foi cunhado um bordão politico : “onde a Arena (partido de apoio ao governo) vai mal, um time no Campeonato Nacional” (a Primeira Divisão, evidente).

Aberto ao público (com portões franqueados aos torcedores) em caráter emergencial no inicio de 1978, para uma partida do Remo contra o Operário de Mato Grosso em razão de um jogo não concluído no Baenão, com a queda de parte do alambrado, nosso estádio estadual já começava  à “meia-boca” Isso depois de uma eternidade (quase oito anos) para sua construção. 

Só para dar uma ideia, o “Albertão” em Teresina, com capacidade para 60 mil torcedores, fora concluído em apenas um ano, em 1973. Já o Mangueirão teve seu projeto iniciado em 1970. E tinha a previsão original  para uma lotação de até 100 mil pessoas!

A suntuosidade arquitetônica do primitivo  estádio “Alacidão” chamou a atenção do saudoso cronista  João Saldanha, que veio a Belém pela Rádio Tupi para a cobertura do jogo do Remo X Operário. Olhando a estrutura do Mangueirão como se fosse um radar móvel, Saldanha disse pra mim, que estava bem perto dele : “Que arquitetura linda, bonito estádio”, revelou sua admiração.

Quanto a isso, ninguém tem dúvidas. O problema do estádio é a sua funcionalidade que foi esquecida. É verdade que há  quase 50 anos atrás, Belém era outra capital. E o local onde foi erguido o Mangueirão era uma área quase  inóspita. Praticamente desabitada. O conjunto residencial popular

Panorama XXI, um dos primeiros construídos pela Cohab,  dava sinais de vida. E só. As vias de afluência do trânsito sequer foram cogitadas, Bastava entrar e sair pela avenida Augusto Montenegro e o escoamento do público estaria resolvido. Com o passar rápido do tempo, esse foi um dos problemas cruciais do estádio. Suas rampas de entrada e saída tornaram-se insuficientes: só duas destinadas naturalmente às torcidas de Remo e Paissandu. Em dias de jogos em  que afluem multidão de torcedores, tudo fica complicadíssimo.

O descaso pela manutenção do auspicioso  “templo do futebol paraense” foi outro grave problema que por muito pouco não  terminou em  uma tragédia. Pelo balouçar excessivo do estádio nos momentos da torcida comemorar um gol. Foi preciso que o Fantástico mostrasse um Re-Pa onde as cabines de imprensa escancaravam o treme-treme de microfones, papeis, câmeras e tudo mais que estivesse sob o alcance da filmagem. O estádio ficou dois anos interditado (1991/93) Vergalhões de ferro reforçaram sua estrutura interna. A reforma serviu também para concluir a “ferradura” do modelo das arquibancadas,   que tinha um grande espaço incompleto. Além de adaptar o estádio para competições olímpicas, reduzindo-se um pouco o espaço que o separa do gramado. E a antiga  geral foi extinta.

Agora, o Mangueirão volta a mostrar suas mazelas. Pelo que se comenta, bem mais graves que as do começo da década de 1990. Uma temeridade dar tratamento a elas meramente paliativo. Afinal, são  vidas  que podem estar sendo arriscadas. O novo governo que assumiu no primeiro  dia deste ano, não tem culpa alguma  pela incúria administrativa de seus antecessores. Foram 25 anos de absoluto descaso pelo maior estádio de Belém. Baenão (fechado há quase cinco anos) e Curuzu não conseguem abrigar público superior a 15 mil torcedores. O plano B de nosso futebol poderia ser um estádio como chegou a ser iniciado em Ananindeua, município vizinho a Belém. Na atual circunstancia, seria a segunda via, principalmente para o Remo, o maior prejudicado com a interdição do estádio estadual. Por enquanto, não onde atuar como mandante de seus jogos.

E agora, José?

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